" Sigo em frente, pra frente eu vou
sigo enfrentando as ondas onde muita gente naufragou ..."



sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Morador nada 600 metros para sair de casa inundada em Campos, no RJ


Elvis nadou cerca de 600 metros para sair de casa em direção à rodovia (Foto: Lilian Quaino/G1) 
Elvis nadou cerca de 600 metros para sair de casa em direção à rodovia (Foto: Lilian Quaino/G1)
 
Morador de Três Vendas, localidade inundada após o rompimento de um dique em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, Elvis Monteiro Ribeiro teve sair de casa nadando nesta sexta-feira (6). O trajeto em direção à rodovia pela água barrenta tem cerca de 600 metros. De acordo com a Defesa Civil, o nível da água se mantém em dois metros de altura nesta tarde.
"Tem ruas que já têm água a mais de dois metros de altura. Só nadando mesmo", disse Elvis, que mora numa casa térrea já totalmente inundada na localidade. "Preferi ficar, mas em casa não deu porque inundou. Passei a noite na beira da BR", contou ele, acreditando que em duas semanas a água baixe e ele possa voltar para casa.
Lenilda e a mãe Leila saíram de casa e levaram os pertences para casas de parentes (Foto: Lilian Quaino/G1) 
Lenilda e a mãe Leila saíram de casa e levaram
os pertences para casas de parentes
(Foto: Lilian Quaino/G1)

Já Lenilda da Silva e sua mãe, Leila, estavam na BR-356 aflitas por uma carona para irem ver como estava a casa delas. Elas saíram da casa em Três Vendas às 13h de quinta-feira (5) para levar pertences para casas de parentes e, quando voltaram, a água já tinha subido e elas não puderam pegar três cãezinhos que deixaram no segundo andar.
"Estou aflita, quero ver como estão meus cachorrinhos. São filhotes de basset. Não imaginei que a água ia subir tão rápido. Lavamos algumas coisas para Travessão, um distrito aqui perto, mas quando voltamos não dava mais para ir em casa. Quero ir agora para pegar os cahorrinhos", disse Lenilda, contando que, em 2008, quando houve enchente semelhante, também causada pelo desmoronamento de trecho da estrada, a inundação foi mais devagar.
Dono de um barco, Vitor de Souza está desde muito cedo ajudando os vizinhos, levando-os de um lado para outro. Por volta das 13h, ele levava sua vizinha, Renata Moraes Machado, de volta para a casa, e pediu para que ela levasse um saco com comida para seu gato, que estava no segundo andar da casa.
"A gente tem que se ajudar, não é. Fazer o quê? Somos todos vizinhos e já passamos por isso juntos outras vezes", disse Vitor, que assim como Renata, está alojado no segundo andar de casa por causa da inundação.
Renata estava preocupada com a situação dos animais. "De manhã os bombeiros resgataram quatro cachorros na minha rua. A gente pediu ajuda e eles vieram", contou ela.
Pessoas nadam na água da chuva (Foto: Lilian Quaino / G1) 
Pessoas nadam na água da chuva (Foto: Lilian Quaino / G1)
Cerca de 500 famílias não querem deixar casas inundadas
 
O coronel Moacir Pires, coordenador Defesa Civil estadual no Norte Fluminense, disse que até o meio-dia desta sexta-feira (7) não conseguiu convencer nenhum dos moradores da localidade Três Vendas a deixar suas casas. Das mil famílias que vivem na região, 500 permanecem na comunidade, segundo cálculos da prefeitura de Campos.
O coronel disse ainda que a água Rio Muriaé parou de subir. Mas ainda há risco para os moradores, já que o escoamento de toda a água vai demorar a ocorrer. Ele teme que as estruturas das casas fiquem abaladas com a inundação. “Os moradores estão achando que a água vai baixar logo. Eles estão irredutíveis”, disse o coronel. 
A Ampla, distribuidora de energia, disse em nota que está em contato constante com a Defesa Civil para avaliar a necessidade de desligamento da energia elétrica na localidade de Três Vendas. Os possíveis desligamentos programados e coordenados com a Defesa Civil têm como objetivo garantir a segurança da população e auxiliar no resgates das famílias. Equipes da distribuidora estão à disposição da Defesa Civil para realizar as interrupções caso sejam necessárias.

Moradores temem saques
O morador Joilson Ferreira, de 40 anos, vive há 30 anos na localidade e disse que não vai sair de casa. Ele contou que já passou por outra enchente em 2008, quando o local também ficou inundado. Na ocasião, segundo ele, as casas abandonadas durante a enchente foram saqueadas.

Já estamos acostumados. Meu pai até vendeu o carro e comprou um barco. Para nós o barco é mais útil do que um carro ou uma moto”, disse ele, chegando de barco à margem BR-356, para dar carona a outros vizinhos que foram conferir o estado de suas casas.
A casa de Marciano Machado Pitanga já estava com o primeiro andar totalmente tomado pelas águas, mas ele também não pretende sair do local. Ele colocou móveis e pertences no segundo andar imóvel onde passou a noite. Nesta manhã, Marciano conseguiu carona num barco para chegar a BR- 356 onde trabalha num trailer.
"Não vou sair. Tenho medo de saques. Sou da Bahia, estou aqui há pouco tempo e me contaram que quando tem enchentes e a gente sai de casa, tem saque", contou ele.

G1

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