Numa cidade que há muitos anos deixou de realizar as tradicionais festas de Santo Antônio, São João e São Pedro, dois artistas sobrevivem e se destacam fazendo um trabalho ligado à preservação da autêntica música nordestina. Os dois são cantores, compositores e comandam programas de rádio de grande audiência. Sobre um, Gláucio Costa, já escrevi aqui mesmo neste blog. Hoje vou tratar do outro, o multitalentoso Zezinho de Garanhuns.
Zezinho é o homem da Musicamp, apresentado à tarde na FM Sete Colinas. Bom comunicador, aboiador, faz toadas como poucos, compõe e ainda canta, valorizando o autêntico forró pé-de-serra.
Neste período junino lançou um disco, intitulado “O Povo quer Forró”, reunindo 12 canções que são a cara do interior e do nosso querido Nordeste.
Alguma das músicas selecionadas por Zezinho para o CD trazem verdadeiros achados e surpreendem pela criatividade e frases cortantes, capazes de provocar uma reflexão. Começa com “Pode Pegar Pegado”, de José Alves, um xote animado ligado nas modificações por que passa o mundo, com uma linguagem destes tempos de internet e tantas novidades.
“Vou selecionar os nossos momentos depois de tudo deletar você”, canta o poeta no início, para mais na frente dá o recado definitivo à namorada: “Pode pegar descendo e sem olhar pra trás, vai viver tua vida e deixa a minha em paz, o que eu sentia já se acabou, vai pra o inferno e leva o teu amor”.
Tudo isso com uma batida forte, a sanfona dominando a cena, triângulo, zabumba e a voz cativante de Zezinho falando do novo e resgatando palavras antigas, do tempo da gente menino, como a instigante “escambau”.
Depois vem “Cospe Grosso”, forró de Paulo Dubetio chamando a atenção para uma das figuras mais abominadas no interior nordestino: o pirangueiro. “Meu Primeiro Beijo”, terceira faixa do CD, é a mais romântica ou pelo menos a mais saudosa das músicas deste álbum. Uma composição de Djanira de Monteiro, com as lembranças do primeiro amor, que muitas vezes não se esquece.
Todo o disco segue essa linha, com xotes, baiões e muito forró. Desses que dá vontade de sair dançando pelo meio da casa, como “Festa na Roça”, com os versos que cheiram a Nordeste, a fogueira, quadrilha e São João.
Merece destaque, ainda, a música “Nordeste Desgarrado”, de Judive Macedo, uma composição muito bonita sobre a troca sempre dolorosa da roça ou cidade pequena pela metrópole.
“Viajando pelo pé da serra venho enfrentar a guerra na cidade grande”, anuncia o cantor, fugindo da fome e indo de encontro a poluição. Não há outro caminho, no entanto, e ele explica: “Doutor melhor sentir saudade do que passar fome”.
Zezinho tem bom gosto e amor ao Nordeste. E garantiu através deste disco o São João em Garanhuns.
Roberto Almeida
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