" Sigo em frente, pra frente eu vou
sigo enfrentando as ondas onde muita gente naufragou ..."



sábado, 24 de setembro de 2011

Para psicanalista, tragédia no ABC mostra "fragilidade" das relações entre professores e alunos


escola de frente
Os motivos que levaram um menino de 10 anos a atirar em uma professora e depois se matar em São Caetano do Sul, no ABC, ainda são desconhecidos tanto pelos familiares quanto pela polícia. Entretanto, para o psicanalista Sergio Braghini, o garoto, assim como o jovem Wellington Menezes de Oliveira - autor do massacre de Realengo, no Rio de Janeiro - foi vítima da "fragilidade das relações humanas" dentro do ambiente escolar.


- O que me assusta é a repetição dos atos [no ABC e no Rio] em um espaço tão curto de tempo. Até que ponto esse jovem e essa criança foram ignorados? Minha preocupação é que essas crianças estão passando por um sofrimento mudo, que os pais, os professores, os colegas não querem escutar. Só quando acontece [um crime] é que as pessoas fazem associações sobre os sinais de que algo estava errado.

Braghini, que é professor na Fespsp (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), diz que é possível que o menino tenha tido durante a vida familiaridade com armas de fogo. O revólver que ele usou nos disparos era de seu pai, que é guarda municipal.

- Uma criança de dez anos tem familiaridade com arma de brinquedo, ainda mais porque é recorrente em nossa cultura presentear crianças do sexo masculino com brinquedos que denotem virilidade. Neste momento, o mais importante é a análise profunda, por parte das pessoas que conviveram com ele,  sobre todos os atos do garoto, com a finalidade de tentar descobrir os motivos que podem ter levado o menino a fazer o que fez.

O psicanalista diz que, mesmo sendo possível a criança ter planejado o crime, é necessário, antes de tudo, esclarecer se o menino cometeu o crime por estar desesperado ou por nutrir ódio pela professora.

Responsabilidade

Para a psicóloga social Maria da Graça Gonçalves, pesquisadora em adolescência e violência pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), é prematuro e arriscado dizer que o pai do menino é o responsável principal pelo ocorrido.

- Eu vejo o pai como vítima, mesmo não tirando a sua responsabilidade pelo filho. A escola também não pode ser simplesmente responsabilizada. São muitas coisas envolvidas, não dá para ter controle sobre tudo. Mas é importante estar atento ao comportamento das crianças.

Segurança nas escolas

Para os especialistas, a possibilidade de colocar detectores de metais em escolas ou fazer revista de alunos para evitar ataques como o de São Caetano do Sul e o do Rio de Janeiro não são válidos. Maria vê essas medidas de segurança como forma de antecipar o problema.

- O que acho que se deve trabalhar é o fortalecimento de relações, do cuidado com os alunos. Ninguém deveria passar despercebido na escola com um sofrimento presente.


Já Braghini diz ver as formas de "repressão" como forma de fugir da realidade dos estudantes, que muitas vezes ficam expostos à “perversidade dos colegas” – como no bullying – e da apatia dos professores, mal-remunerados e obrigados a “cumprir escalas de trabalho”.
- Só deve haver controle de armas em fronteiras e em países em conflito. Implantar isso é fazer com que a escola se torne um presídio. A escola pode voltar a ser um lugar valorizado e respeitado. Eu ainda prefiro algo mais humano aos detectores de metais.
A direção da Escola Municipal Professora Alcina Dantas Feijão, onde o menino estudava, afirmou que no colégio há 16 câmeras de vídeo que filmam corredores e alguns espaços, mas não chegam nas salas de aula. Há também seis inspetores por período na escola, além de porteiros e vigias. O colégio tem aproximadamente 2.230 aluno.

Nenhum comentário:

Postar um comentário