Os motivos que levaram um menino de 10 anos a atirar em uma professora e depois se matar em São Caetano do Sul, no ABC, ainda são desconhecidos tanto pelos familiares quanto pela polícia. Entretanto, para o psicanalista Sergio Braghini, o garoto, assim como o jovem Wellington Menezes de Oliveira - autor do massacre de Realengo, no Rio de Janeiro - foi vítima da "fragilidade das relações humanas" dentro do ambiente escolar.
- O que me assusta é a repetição dos atos [no ABC e no Rio] em um espaço tão curto de tempo. Até que ponto esse jovem e essa criança foram ignorados? Minha preocupação é que essas crianças estão passando por um sofrimento mudo, que os pais, os professores, os colegas não querem escutar. Só quando acontece [um crime] é que as pessoas fazem associações sobre os sinais de que algo estava errado.
Braghini, que é professor na Fespsp (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), diz que é possível que o menino tenha tido durante a vida familiaridade com armas de fogo. O revólver que ele usou nos disparos era de seu pai, que é guarda municipal.
- Uma criança de dez anos tem familiaridade com arma de brinquedo, ainda mais porque é recorrente em nossa cultura presentear crianças do sexo masculino com brinquedos que denotem virilidade. Neste momento, o mais importante é a análise profunda, por parte das pessoas que conviveram com ele, sobre todos os atos do garoto, com a finalidade de tentar descobrir os motivos que podem ter levado o menino a fazer o que fez.
O psicanalista diz que, mesmo sendo possível a criança ter planejado o crime, é necessário, antes de tudo, esclarecer se o menino cometeu o crime por estar desesperado ou por nutrir ódio pela professora.
Responsabilidade
Para a psicóloga social Maria da Graça Gonçalves, pesquisadora em adolescência e violência pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), é prematuro e arriscado dizer que o pai do menino é o responsável principal pelo ocorrido.
- Eu vejo o pai como vítima, mesmo não tirando a sua responsabilidade pelo filho. A escola também não pode ser simplesmente responsabilizada. São muitas coisas envolvidas, não dá para ter controle sobre tudo. Mas é importante estar atento ao comportamento das crianças.
Segurança nas escolas
Para os especialistas, a possibilidade de colocar detectores de metais em escolas ou fazer revista de alunos para evitar ataques como o de São Caetano do Sul e o do Rio de Janeiro não são válidos. Maria vê essas medidas de segurança como forma de antecipar o problema.
- O que acho que se deve trabalhar é o fortalecimento de relações, do cuidado com os alunos. Ninguém deveria passar despercebido na escola com um sofrimento presente.
- Só deve haver controle de armas em fronteiras e em países em conflito. Implantar isso é fazer com que a escola se torne um presídio. A escola pode voltar a ser um lugar valorizado e respeitado. Eu ainda prefiro algo mais humano aos detectores de metais.
A direção da Escola Municipal Professora Alcina Dantas Feijão, onde o menino estudava, afirmou que no colégio há 16 câmeras de vídeo que filmam corredores e alguns espaços, mas não chegam nas salas de aula. Há também seis inspetores por período na escola, além de porteiros e vigias. O colégio tem aproximadamente 2.230 aluno.
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