As eleições municipais de 2008 movimentaram um exército de brasileiros dispostos a mudar de carreira: 349.773 pessoas se candidataram a uma vaga de vereador e 15.903 tentaram virar prefeito, de acordo com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Como a concorrência é grande, é cada vez mais comum ver novatos apostando na profissão político e investindo em cursos para aprender a domar a timidez, a falar em público, a se vestir adequadamente, a participar de debates e a dar entrevistas.
Um dos grandes atrativos da “profissão” é o salário, cujo aumento é
decidido pelos próprios vereadores. Este ano, por exemplo, os políticos
da Câmara de Piracicaba, no interior de São Paulo, aprovaram reajuste de
80% e passaram a receber R$ 11 mil por mês. Mas o político profissional
também não pode esquecer os benefícios: verba de gabinete para pagar
assessor, verba indenizatória para viajar, auxílio paletó, auxílio
alimentação, auxílio gasolina etc.
Para o professor de Marketing Político da USP (Universidade de São
Paulo), Celso Matsuda, “qualquer pessoa pode se tornar um político”
quando bem orientado.
- Mas o curso é recomendado para aquele que já desenvolve um projeto
comunitário ou é respeitado por um setor da sociedade, mas é tímido ou
não sabe como expandir suas aptidões.
O curso, que dura até dois anos, atrai pessoas interessadas em
trabalhar com política, como assessores parlamentares. Mas dos 40 alunos
que estão atualmente matriculados, 10% estão interessados em se tornar
“vereadores e secretários municipais”.
- Muitos são candidatos em potencial [...] Entre 2005 e 2006 a atual
prefeita da cidade de Cruzeiro, Ana Karin (PR), fez o curso com a gente.
Ele diz que o currículo inclui planejamento da campanha, marketing do
político, comportamento do eleitor e até formação intelectual, como
discussões de psicologia e sociologia. Mas Matsuda diz que para uma
formação mais focada no político, o ideal é participar de Media
Training, cursos de até um mês que ele também ajuda a coordenar fora da
USP.
- Na prática, treinamos o político a ser seu próprio porta-voz.
Usamos laboratórios, com estúdios de TV, câmeras e jornalistas
reproduzindo o ambiente em que ele vai encontrar quando estiver em
campanha.
Ele diz que, depois de passar pelos testes, o comportamento do aluno é
avaliado, “e ele consegue perceber seus defeitos e as barreiras que
precisam ser transpostas, como a diferença do vocabulário que se deve
usar no rádio e na TV”.
A simulação da realidade também é usada por outro especialista, o
fonoaudiólogo Simon Wajntraub, que tenta destravar políticos que têm
medo de falar em público. Ele compara o próprio método com o do médico
que ajudou o rei inglês Jorge 6º a superar a gagueira no filme vencedor
do Oscar O Discurso do Rei (2010).
- Eu detesto teoria. Ela não funciona. Meu método é o da provocação.
Eu vou filmando, provocando e mostrando na hora o que está errado, e o
próprio político enxerga o que precisa mudar. Em um auditório lotado de
pessoas, ele coloca o candidato na fogueira. O público está livre para
perguntar e, principalmente, provocar. Ao notar o ponto fraco do aluno,
Simon mira justamente nele.
- Quase tudo é de fundo emocional porque as pessoas são castradas
desde pequenas. O que eu faço é acabar com isso provocando. A minha aula
é um teatro.
O método pode ser polêmico, mas já está em uso desde 1968. Por suas
mãos já passaram políticos como o ex-senador Arthur Virgílio (PSDB) “que
gaguejava”, o ex-vice-candidato a presidente Índio da Costa (PSD),
“muito tímido”, e o atual ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.
- O Lobão já me chamou em duas campanhas políticas porque colocaram prótese de silicone na corda vocal dele.
Simon, que participa de comerciais no rádio, diz que é capaz de fazer
60 vozes diferentes. Uma delas foi usada para tentar salvar o
ex-presidente Fernando Collor de Mello do impeachment, em 1992.
- Um grupo de pessoas que o defendia pediu que eu fizesse uma locução
para 500 rádios. Eu fiz, mas avisei: ‘não bota meu nome não!’ (risos).
No momento, 30 de seus alunos são candidatos a prefeito e vereador.
Ele diz que, se o problema for timidez, “um mês basta”, mas que gagueira
é o pior caso.
- Precisa frequentar até 300 aulas. Três por semana. Cada aula custa
R$ 150, ou até R$ 45 mil se todas as aulas forem necessárias.
E-book
Outro que promete ajudar político novato é o presidente da Câmara
Municipal de Presidente Venceslau, o vereador tucano Eliseu Bayer – o
terceiro mais votado nas eleições municipais de 2008.
- Depois da primeira campanha [2004], que eu perdi, descobri que
algumas técnicas funcionaram bem. Então, na eleição seguinte, eu montei
um e-book contando a minha campanha. Tentei fazer um trabalho bem
simples com a minha experiência e as técnicas que funcionaram.
Ele ensina a economizar o dinheiro do jingle compondo chamadas
“criativas” no horário eleitoral ou frases de efeito para ser repetida
nos carros de som.
- No horário eleitoral gratuito todo mundo diz a mesma coisa. No meu
caso, eu coloco algo diferente, como um exército falando o meu nome. Não
é para enganar. Na hora da decisão, muito eleitor vota na campanha que
mais chamou sua atenção.
Para economizar no santinho, ele recomenda o que chama de “boletim
informativo”: metade de uma folha de sulfite contando resumidamente a
história do político.
- Ao invés de 10 mil santinhos, prefiro 5.000 com minha história, propostas e orientações eleitorais.
Outra dica é se filiar a um partido em vez de fundar um.
- Ele tem de somar forças. Conversar com as lideranças do partido, criar relacionamentos e convencer os líderes do partido que o gabaritam.
Com 100 páginas repletas de fotos e áudio, o e-book custa R$ 67.
- Tem dia que vende um, dois. Tenho percebido que a venda aumenta à medida que a eleição se aproxima.
Outra dica é se filiar a um partido em vez de fundar um.
- Ele tem de somar forças. Conversar com as lideranças do partido, criar relacionamentos e convencer os líderes do partido que o gabaritam.
Com 100 páginas repletas de fotos e áudio, o e-book custa R$ 67.
- Tem dia que vende um, dois. Tenho percebido que a venda aumenta à medida que a eleição se aproxima.
Futuro de Político
Para o professor de ciências políticas da UFRGS (Universidade Federal
do Rio Grande do Sul), Francisco Ferraz, nem todo candidato sabe como
se comportar em uma campanha e nem o que vai lhe acontecer caso saia
vencedor das urnas. Presidente do curso Política para Políticos, feito
para preparar candidatos experientes e de primeira viagem, ele diz que
nem sempre o postulante a um cargo eletivo sabe “responder a si mesmo
porque quer ser candidato”.
- Ele precisa estar preparado para se dar ao luxo de perder e para se
dar ao luxo de ganhar. Ao vencer, ele muda seu perfil profissional. A
família está preparada para a mudança? Na vida política as glórias vão
para o político. Para a família o que aparece são os problemas.
Ao custo de R$ 150 a inscrição, o curso - que dura um dia inteiro – é
levado para cidades pólo de todo o Brasil, onde os interessados de
vários municípios podem se reunir.
- A ideia é oferecer um curso para todos os candidatos de todos os partidos.
Na aula, o aspirante a político aprende a planejar sua campanha, a
usar fórmulas eficientes de abordar o eleitor, como o corpo a corpo e o
de porta a porta.
- Ensinamos a usar a publicidade eleitoral na internet, nas mídias
sociais e principalmente a cuidar do material impresso. A foto eleitoral
não deve ser a mais bonita, mas a que melhor expressa a impressão que o
candidato quer vender de si mesmo.
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