A
rigidez diante da corrupção se tornou uma das bandeiras mais fortes do
primeiro ano do governo da presidente Dilma Rousseff, que encerra 2011
com índice de aprovação recorde.
Embora tenha perdido sete ministros nos últimos meses, seis deles sob
suspeita de envolvimento com irregularidades, a petista não só conseguiu
se “descolar” das acusações, mas também ganhou fama internacional com sua política de “tolerância zero”.
Não por acaso, a luta da presidente brasileira contra políticos
corruptos ganhou as páginas dos principais veículos de comunicação do
mundo, como as revistas americanas Time e New Yorker, a britânica The
Economist e o jornal espanhol El País. A “faxina” de Dilma ficou famosa
principalmente durante o escândalo no Ministério dos Transportes, em
julho, cujo desfecho foi a queda do então ministro Alfredo Nascimento
(PR-AM) e a demissão de pelo menos 24 servidores da pasta.
Para o cientista político Celso Roma, doutor pela USP (Universidade
de São Paulo), Dilma não ficou com fama de “durona” à toa. Na avaliação
dele, a presidente foi mais rígida que seus antecessores, os
ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso.
- A forma como a presidente Dilma lidou com denúncias de corrupção em
seu governo a diferenciam dos antecessores. Em primeiro lugar, ela não
menosprezou as denúncias envolvendo seus ministros [...] Em segundo
lugar, resistiu à pressão por parte dos líderes dos partidos da base
aliada no Congresso, para manter os acusados no ministério. Em terceiro
lugar, e talvez o mais importante, ela se destaca por ter afastado o
maior número de ministros em um governo durante a Nova República.
Outra característica que se tornou uma “marca de Dilma” foi o fato de
a presidente ter dado a todos os ministros a chance de se defenderem,
como ressalta Renato Janine Ribeiro, professor titular de Ética e
Filosofia Política na USP.
- O primeiro traço da Dilma como presidente é que primeiro ela deixa a
pessoa se defender e, depois, se a pessoa não responde a contento, é
demitida. [...] Nenhum deles [dos seis ministros que caíram após
denúncias] conseguiu, até agora, provar que eram inocentes. Não quer
dizer que eles sejam culpados. Mas, na política, se você não consegue
passar para a sociedade a convicção de que é inocente, acabou.
Os especialistas alertam que, para
manter a fama de “inimiga da corrupção” em 2012, Dilma precisará
escolher bem quem entra e quem sai na reforma ministerial planejada para
o início do ano. Além disso, sustentam os analistas, o governo deveria
pôr em prática uma completa reforma administrativa, que resulte não só
na diminuição do número de ministérios (hoje são 38), mas também no fim
da divisão de pastas entre os partidos aliados. Essa é a opinião do
cientista político Rogério Schmitt, de São Paulo.
- O Lula construiu um modelo, e a Dilma manteve, que praticamente
torna os partidos aliados proprietários de determinados ministérios.
[...] Quase todos os ministros que caíram foram substituídos por pessoas
do mesmo partido. Num sistema presidencialista, tem de haver mais
equilíbrio, para que seja exclusivo da presidente o direito de nomear e
demitir os ministros que quiser a qualquer momento.
Agenda positiva
Se, por um lado, a presidente encerra o ano com uma fama positiva em
relação às iniciativas anticorrupção, os escândalos ofuscaram o
lançamento de programas importantes do governo federal, e não foram
poucos. Em um esforço para manter uma agenda positiva em meio ao
turbilhão na Esplanada, Dilma lançou nos últimos meses os programas Brasil sem Miséria, Rede Cegonha, o plano de combate ao crack, o Brasil Maior e o plano dos Direitos da Pessoa com Deficiência.
Para Celso Roma, outro fator que contribuiu para deixar à sombra as
ações lançadas em 2011 foi a preocupação da população diante da crise
econômica internacional. A forma como Dilma lidou com a iminência da
recessão mundial também garantiu elogios - e aprovação - ao governo.
- Devido à preocupação generalizada com a crise mundial e os efeitos
dela na economia brasileira, os programas Brasil sem Miséria e Luta
contra o Crack ainda não tiveram o reconhecimento que merecem.
Segundo o cientista político José Paulo Martins Júnior, da Unirio
(Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), é normal que
programas cujos resultados são esperados para longo prazo demorem para
emplacar. Ele diz que, em 2012, Dilma precisa ficar atenta a outro
programa, lançado há bastante tempo, que parece ter empacado: o PAC
(Programa de Aceleração do Crescimento).
- O PAC está empacado, até agora não decolou. A principal obra do
programa, que é Belo Monte [a construção da usina hidrelétrica no rio
Xingu, no Pará], está cercada de uma série de polêmicas. A realização
das obras da Copa de 2014 e da Olimpíada também avançam lentamente.
[...] Então, a Dilma corre o risco de, apesar de ter como qualidade o
lado de gestora, ficar marcada pela ineficiência na área de
infraestrutura. Isso é um desafio.
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