Mateus tinha péssima reputação. Era um publicano, coletor de
impostos. Na época, os coletores eram famosos pela corrupção. Os
judeus os odiavam porque eles estavam a serviço do Império
Romano, que os explorava. Mateus era uma pessoa sociável,
gostava de festas e provavelmente usava dinheiro público para
promovê-Ias.
Tomé tinha a paranóia da insegurança. Só conseguia acreditar
naquilo que tocava. Era rápido para pensar e rápido para
desacreditar. Andava segundo a lógica, faltava-lhe sensibilidade e
imaginação. O mundo tinha que girar em torno das suas verdades,
impressões e crenças. Desconfiava de tudo e de todos.
Pedro era o mais forte, determinado e sincero do grupo. Porém,
era inculto, iletrado, intolerante, irritado, agressivo, inquieto,
impaciente, indisciplinado, não suportava ser contrariado. Não era
empreendedor, e, como muitos jovens, não planejava o futuro, vivia somente em função dos prazeres do presente.
Suas desqualificações não paravam por aí. Era hiperativo e
intensamente ansioso. Impunha, e não expunha suas idéias.
Trabalhava mal suas frustrações. Repetia os mesmos erros com
freqüência. Se vivesse nos tempos de hoje, seria um aluno que todo
professor queria ver em qualquer lugar do mundo, menos em sua
sala de aula. Mas ele foi um dos escolhidos. Você teria coragem de
escolhê-lo?
No momento em que seu Mestre foi preso, o clima era tenso e
destituído de racionalidade. Havia uma escolta de cerca de trezentos
soldados no local. Impulsivo, Pedro cortou a orelha de um soldado.
A sua reação quase provoca uma chacina. Todos os discípulos
correram risco de morrer por sua atitude impensada.
João era o mais jovem, amável, prestativo e altruísta. Porém,
também era ambicioso, irritado, intolerante, intempestivo. Não
sabia colocar-se no lugar dos outros nem pensar antes de reagir. Não sabia
proteger sua emoção nem filtrar os estímulos estressantes.
Almejava a melhor posição entre os discípulos. Pensava que o reino de
Jesus era político, e por isso, após uma reunião familiar, sua mãe suplicou
ao Mestre, no auge da fama, que quando instalasse seu governo um de seus
filhos se assentasse à sua direita e o outro à esquerda. Os cargos inferiores
pertenceriam aos outros.
A personalidade de João tinha paradoxos. Era simples e explosiva,
amável e flutuante. Jesus chamou a ele e a seu irmão Tiago de Boanerges,
que quer dizer "filhos do trovão". Quando confrontados, reagiam
agressivamente.
Apesar de ter ouvido incansavelmente o discurso de Jesus Cristo sobre
dar a outra face, amar os inimigos, perdoar tantas vezes quantas fossem
necessárias, João teve a coragem de pedir ao próprio
Jesus que assassinasse com fogo os que não seguiam com eles.
Judas Iscariotes era moderado, dosado, discreto, equilibrado e
sensato. Não há elementos que indiquem que se tratava de uma pessoa
tensa, ansiosa e inquieta. Nunca tomou uma atitude
agressiva ou impensada. Jamais foi repreendido por seu Mestre.
Sabia lidar com contabilidade, e por isso cuidava do dinheiro do grupo.
Era um zelo te, pertencia a um grupo social de refinada cultura.
Provavelmente era o mais eloqüente e o mais polido dos discípulos.
Mostrava preocupação com as causas sociais. Agia silenciosamente.
Se uma equipe de psicólogos especialista em avaliação da
personalidade e desempenho intelectual analisasse a personalidade do time
escolhido pelo Mestre dos Mestres, provavelmente todos seriam
desaprovados, exceto Judas.
Judas era o mais bem preparado dos discípulos. Tinha as melhores características de personalidade, exceto uma: não era uma pessoa
transparente. Ninguém sabia o que se passava dentro dele. Esta
característica corroeu sua personalidade como traça. Levou-o a ser infiel a
si mesmo, perder a capacidade de aprender.
Tinha tudo para brilhar, mas aprisionou-se no calabouço dos seus
conflitos. Antes de trair Jesus, traiu a si mesmo. Traiu sua consciência, seu
amor pela vida, seu encanto pela existência. Isolou-se, tornou-se
autopunitivo.
O maior vendedor de sonhos de todos os tempos, contrariando a lógica,
escolheu uma equipe de jovens completamente despreparada para a vida e
para executar um grande projeto. Os discípulos correram riscos ao segui-lo,
mas ele correu riscos incomparavelmente maiores ao escolhê-los.
Ele tinha pouco mais de três anos para ensinar-lhes. Era um tempo
curtíssimo para transformá-los no maior grupo de pensadores e
empreendedores desta Terra. Almejava lapidar a sabedoria na
personalidade rude e complicada deles e torná-Ias capazes de incendiarem
o mundo com suas idéias, e desse modo mudar para sempre a história da
humanidade.
A escolha de Jesus não foi baseada no que aqueles jovens possuíam,
mas no que ele era. A autoconfiança e a ousadia de Jesus não têm
precedentes. Ele preferiu começar do zero, tra
balhar com jovens completamente desqualificados a trabalhar com os
fariseus saturados de vícios e preconceitos. Preferiu a pedra bruta à mal
lapidada.
Augusto Cury.
Edilmara Nunes
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