" Sigo em frente, pra frente eu vou
sigo enfrentando as ondas onde muita gente naufragou ..."



quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Municípios afetados pela seca em Pernambuco, Sanharó e Pesqueira recebem 300 cestas básicas


Por Cláudio Santos
 
Já faz um ano que mais de mil famílias da zona rural de Sanharó, no Agreste Central de Pernambuco, não sabem o que é ter água nos açudes. Tanto tempo que muitos nem lembram mais o gosto do leite e do queijo, símbolos da pecuária no município. Sem o sustento e os recursos da criação das vacas, alguns entram em depressão. Outros sequer têm o que comer.

As doações devem ajudar 300 famílias das
pelo menos mil que precisam
Para aliviar a precariedade desses pequenos trabalhadores rurais, duas voluntárias, Silvana Cordeiro da Silva e Janeide Batista Aquino, percorreram os 210 quilômetros entre Sanharó e Recife nesta terça-feira (29) para buscar 300 cestas básicas arrecadadas pelo Comitê da Ação Cidadania Pernambuco Solidário. O município vai receber 180 cestas, enquanto o vizinho Pesqueira ganhará 120.

"O que mais se vê no caminho é cabeça de gado pela estrada. E os donos se perdendo junto com os animais", relata Janeide. Sanharó é um dos 131 municípios em situação de emergência em Pernambuco devido à estiagem prolongada, de acordo com a Coordenadoria de Defesa Civil do Estado (Codecipe), com aproximadamente 22 mil pessoas afetadas. Veja no mapa abaixo quais são as outras cidades:

Apesar de a doação ser de cerca de três toneladas de alimentos, de acordo com as voluntárias, a comida dever ser suficiente para menos de uma semana em muitas famílias. "Infelizmente, a quantidade de pessoas nas casas é alto, o que faz as cestas durarem pouco", lamenta Janeide. "Mas isso já é uma alegria enorme para eles. Até uma gota de água é muito para quem não tem nada", completa.

Sem registrar chuvas suficientes para encher reservatórios, cisternas e açudes, o drama para conseguir água potável para beber continua. "O problema maior é na zona rural, onde as pessoas dependem da agricultura ou da pecuária até para comer e com muitas famílias em lugares tão longínquos que são inacessíveis de carro", afirma Silvana. O caminhão que chegou ao Recife nesta terça deveria também levar 150 garrafões de 20 litros de água, mas não possuía espaço para tudo e a entrega vai ficar para a próxima viagem, ainda sem data definida.

Sanharó tem a base da sua economia na pecuária leiteira, com a produção de leites e queijos. "Agora só estamos com 40% da capacidade. Os pequenos agricultores já perderam tudo e os grandes fazendeiros procuram outros lugares para trabalhar. Conheço um que perdeu 30 hectares de plantação, 100 cabeças de gado e apenas um dos seus seis açudes está com água", diz Janeide.
Silvana representa a Pastoral da Criança, enquanto Janeide,
várias associações do município
Segundo Silvana, alguns dos pequenos agricultores estão desenvolvendo um quadro de depressão com as perdas devido à estiagem. "Eles se viram sem a razão de viver e o meio de sustento rapidamente. Agora não estão mais dispostos nem a sair de casa", explica. Embora o cenário em algumas propriedades seja desolador, a voluntária admite que os moradores da zona rural de Sanharó alimentam expectativas de melhorias nas condições de vida.

METEOROLOGIA - A previsão da Agência Pernambucana de Águas e Climas (Apac), no entanto, não é de esperança. Apesar de o índice de precipitação em muitas áreas do Agreste e do Sertão haver ficado próximo à média em janeiro, os cálculos meteorológicos mostram que os próximos três meses devem ser mais secos.

De acordo com o meteorologista Daniel Anastácio, a estiagem deve persistir, mas não da mesma forma que em 2012, quando foi uma das maiores dos últimos 40 anos. Segundo os registros da Apac, entre fevereiro e abril, a média varia de 200 milímetros no São Francisco a 500 milímetros no Araripe. No Agreste Central, é de 200 milímetros e, nas cidades mais próximas à Zona da Mata, pode chegar a 400 milímetros.

O meteorologista explica que isso acontece porque o Oceano Atlântico Sul está quente, enquanto o Norte está mais frio que o comum. "Dessa forma, as nuvens mais carregadas estão concentradas no norte. A melhora vai acontecer quando o Atlântico Sul esfriar. Mas ainda não há previsão para isso", explica Anastácio.

DOAÇÕES - A arrecadação para a doação desta terça foi feita pelo Comitê da Ação Cidadania Pernambuco Solidário. Os interessados em ajudar podem levar alimentos, água, roupas e livros à sede, que fica no Parque de Exposições do Cordeiro, na Avenida Caxangá, Zona Oeste do Recife. Quem quiser doar dinheiro pode depositar nas contas do Comitê:

» Banco do Brasil
Agência 3234-4
Conta 5633-2

» Bradesco
Agência 1055-3
Conta 9640-7

Os que querem ser voluntários devem ir pessoalmente à sede do Comitê. "Solidariedade deve ser uma cultura, não um momento. Em condições climáticas cada vez mais adversas, os cidadãos devem estar preparados para ajudar os outros e fiscalizar as ações", defende o coordenador, Anselmo Monteiro. A ação arrecadou pelo menos 200 toneladas de alimentos nos últimos três meses e distribuiu entre mais de 60 municípios do Grande Recife e do interior do Estado, como Ouricuri, Arcoverde, Poção, Alagoinha e Pesqueira.

Doações também podem ser feitas diretamente no município de Sanharó, na Pastoral da criança, localizada na Rua Antônio Ventura Caraciolo, 38, Centro; na Associação de Micro e Pequenas Empresas de Sanharó (Asmipes), na Rua Maria Timóteo, 314, Centro; e no Conselho de Direito, que fica na Rua Inês Aquino, s/n, Santa Clara.

Informa o NE10

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