Wilson Dias/ABr |
Mais de 100 enterros
de vítimas do incêndio na Boate Kiss estão previstos para hoje (28) no
Cemitério Ecumênico Municipal de Santa Maria. Por todos os lados, o
adeus é marcado por revolta e comoção dos parentes e amigos. As
histórias são quase sempre de jovens na faixa de 20 anos e estudantes da
universidade federal e tinham ido se divertir na casa noturna mais
badalada da cidade.
“A gente estava junto
em um churrasco e ele decidiu dar uma esticadinha na boate. Saiu do
churrasco 1h30 e foi para lá. Não devia ter ido, devia ter ficado junto
com a gente”, lamentava Everton Revelante, amigo de Silvio Beure, o
Silvinho. O rapaz, que gostava de piquete e tinha levado amigas para
conhecerem o local, morreu cerca de meia hora depois, no banheiro da
boate, asfixiado com a fumaça tóxica do incêndio.
A poucos metros do
túmulo onde Silvinho era enterrado, o soldado Leonardo de Lima Machado
recebia a salva de tiros dos companheiros militares. Ele estava se
divertindo com a mulher na boate quando o incêndio começou. Ele retirou a
esposa do local, mas voltou para ajudar outras pessoas e não conseguiu
mais sair. “Era uma pessoa competente, disciplinada, muito querida por
todos do batalhão”, contou emocionado o sargento Lenois Cassol, que era
colega de batalhão de Leornardo.
É difícil encontrar
alguém em Santa Maria que não tenha perdido um amigo, parente ou
conhecido na tragédia. Nos enterros, além de namoradas, mães, pais e
irmãos inconformados, vizinhos e amigos demonstram perplexidade com o
episódio. Pai de duas filhas com idades próximas às da maioria das
vítimas, João Carlos Côvolo vai passar boa parte do dia acompanhando
enterros no cemitério municipal.
“Fui no velório
ontem, já fui a dois enterros hoje e vou a mais um hoje a tarde”, contou
ainda chocado com o que aconteceu e aliviado por não ver as filhas
entre os mortos. “Eu tenho duas filhas, de 23 e 28 anos, e graças a Deus
no sábado elas não estavam lá, mas era um lugar onde elas sempre
encontravam os amigos”, contou. O alívio, no entanto, não apaga a imagem
de dor de amigos que perderam filhos. “Fui a pouco ao enterro de dois
irmãos, de 17 e 19 anos. Um fazia agronomia e outro tinha acabado de
entrar para direito. É muito triste”, completou.
Além da consternação,
a maioria das pessoas também se mostrava confusa com a profusão de
boatos e notícias que correm pela cidade - de que não havia extintores
de incêndio funcionando na boate e que os seguranças impediram a saída
das pessoas por achar que se tratava de uma tentativa de não pagar a
conta. Para Cirineo Anversa, de 74 anos e morador de uma cidade próxima a
Santa Maria, é inexplicável que ninguém tenha impedido a casa noturna
de funcionar sem um plano contra incêndio.
“Eu fico admirado. Lá
na lavoura, se você faz um armazém, os bombeiros vão lá ver se tem
extintor, mangueira de incêndio, tudo certinho. E um clube como esse,
que entra 1.500 pessoas, deixam funcionar desse jeito, com porta
estreita para sair, sem extintor funcionando. Era isso que eles deviam
olhar”, apontou o aposentado.
O governador do
estado, Tarso Genro, e senadores do Rio Grande do Sul visitaram as
famílias no velório hoje e defenderam mudanças nas regras para liberação
de alvarás para casas noturnas, além de melhorias na fiscalização
municipal.
Com informações Agência Brasil
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