Por: *Luciano Siqueira
Morre não, só se quiser. Assim como em boca fechada não entra mosquito. Pelo menos é o que ensina a sabedoria popular.
Essas expressões têm vindo à tona nos meios políticos em razão da incontinência verbal de alguns, como o ex-ministro Nelson Jobim, que soa como se o falante desejasse provocar determinado desfecho para situação incômoda. Ou, em outros casos, para dissimular a dúvida e a indecisão.
Jobim disse tanta coisa inconveniente e desnecessária, e deselegante, que a presidenta Dilma não teria outra alternativa senão demiti-lo. Coisas que a um ministro de Estado não está facultado dizer – muito menos em público. Depreciativas em relação ao governo a que servia.
Político experiente, ex-deputado, ministro por duas vezes, ministro aposentado do Superior Tribunal Federal, por que terá optado por um caminho tão desgastante para se afastar do governo? Muito mais simples seria pedir demissão, e pronto.
Miguel Arraes era justamente o contrário: absolutamente comedido em suas declarações, acautelado até em demasia. Quando da campanha presidencial de 1989, no segundo turno, articulamos um encontro dele com Lula, com todos os cuidados que a resistência do PT local impunha à época. Na véspera, esteve com o governador o deputado Plinio de Arruda Sampaio, então líder petista na Câmara.
Pois bem. Dia seguinte, nos reunimos (os dirigentes da Frente Brasil Popular em Pernambuco) com o nosso candidato à presidência da República para preparar a conversa com Arraes. Lula de pronto indagou a Plínio: “- Como foi a audiência com o governador?” Ao que Plínio, entre tímido e constrangido, respondeu: “- Não tenho certeza, mas acho que foi boa. Ele me ouviu o tempo todo. Falou muito pouco e quando falou, não ouvi direito por causa do barulho do ar condicionado. Mas de vez em quando ele fazia um sorriso...”.
Ou seja: jamais seria pela palavra mal posta que Arraes se comprometeria, antes cultivava um certo mistério, bem a seu jeito ladino.
Mas hoje, tal como Jobim, não são poucos os que exageram na loquacidade. E quando se trata de dissimular algo, pior a emenda do que o soneto. Revela indecisão, fragilidade, inconsequência. E uma canhestra incapacidade de construir soluções consistentes.
Longe do autor dessas linhas (sempre solícito diante de repórteres e colunistas) a intenção de deitar regra para quem quer que seja. Mas o comentário me parece oportuno, num tempo em que método declaratório de fazer política muitas vezes se sobrepõe à busca real de entendimento e de solução para os problemas postos na ordem do dia. Que não leva a nada – a não ser a desenlaces indesejáveis ou a mal-entendidos que custa corrigir.
*Luciano Siqueira é deputado estadual, ex-vereador e ex-vice-prefeito do Recife (lucianosiqueira@uol.com.br).
Morre não, só se quiser. Assim como em boca fechada não entra mosquito. Pelo menos é o que ensina a sabedoria popular.
Essas expressões têm vindo à tona nos meios políticos em razão da incontinência verbal de alguns, como o ex-ministro Nelson Jobim, que soa como se o falante desejasse provocar determinado desfecho para situação incômoda. Ou, em outros casos, para dissimular a dúvida e a indecisão.
Jobim disse tanta coisa inconveniente e desnecessária, e deselegante, que a presidenta Dilma não teria outra alternativa senão demiti-lo. Coisas que a um ministro de Estado não está facultado dizer – muito menos em público. Depreciativas em relação ao governo a que servia.
Político experiente, ex-deputado, ministro por duas vezes, ministro aposentado do Superior Tribunal Federal, por que terá optado por um caminho tão desgastante para se afastar do governo? Muito mais simples seria pedir demissão, e pronto.
Miguel Arraes era justamente o contrário: absolutamente comedido em suas declarações, acautelado até em demasia. Quando da campanha presidencial de 1989, no segundo turno, articulamos um encontro dele com Lula, com todos os cuidados que a resistência do PT local impunha à época. Na véspera, esteve com o governador o deputado Plinio de Arruda Sampaio, então líder petista na Câmara.
Pois bem. Dia seguinte, nos reunimos (os dirigentes da Frente Brasil Popular em Pernambuco) com o nosso candidato à presidência da República para preparar a conversa com Arraes. Lula de pronto indagou a Plínio: “- Como foi a audiência com o governador?” Ao que Plínio, entre tímido e constrangido, respondeu: “- Não tenho certeza, mas acho que foi boa. Ele me ouviu o tempo todo. Falou muito pouco e quando falou, não ouvi direito por causa do barulho do ar condicionado. Mas de vez em quando ele fazia um sorriso...”.
Ou seja: jamais seria pela palavra mal posta que Arraes se comprometeria, antes cultivava um certo mistério, bem a seu jeito ladino.
Mas hoje, tal como Jobim, não são poucos os que exageram na loquacidade. E quando se trata de dissimular algo, pior a emenda do que o soneto. Revela indecisão, fragilidade, inconsequência. E uma canhestra incapacidade de construir soluções consistentes.
Longe do autor dessas linhas (sempre solícito diante de repórteres e colunistas) a intenção de deitar regra para quem quer que seja. Mas o comentário me parece oportuno, num tempo em que método declaratório de fazer política muitas vezes se sobrepõe à busca real de entendimento e de solução para os problemas postos na ordem do dia. Que não leva a nada – a não ser a desenlaces indesejáveis ou a mal-entendidos que custa corrigir.
*Luciano Siqueira é deputado estadual, ex-vereador e ex-vice-prefeito do Recife (lucianosiqueira@uol.com.br).
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