Elaborado há mais de quatro anos, o projeto de implantação de máquinas de camisinhas nas escolas de ensino médio da rede pública está gerando polêmica. Dois modelos já foram desenvolvidos e um deles já é oferecido no mercado. A expectativa do Programa Nacional de DST e Aids, responsável pela iniciativa, é que até 40 máquinas comecem a funcionar ainda em 2011, apesar da resistência encontrada em alguns setores da sociedade.
Máquina de distribuição de camisinhas que será instalada nas escolas pelo governo federal para combater Aids
Estudantes, pais e educadores discutem se está certo ou errado instalar máquinas para distribuição de camisinhas nas escolas públicas.
- As pesquisas recentes indicam que jovens entre 13 e 19 anos têm uma vida sexualmente ativa. Se eles têm uma vida sexualmente ativa, seria uma atitude dissimulada fechar os olhos para esta realida de – afirma a doutora em antropologia Micheline de Oliveira durante entrevista ao Fantástico.
O Ministério da Saúde em parceria com o Unicef fez uma pesquisa e descobriu que os adolescentes têm dificuldade de acesso ao preservativo. Por isso, escolheu a escola para encurtar este caminho. Sem querer, criou uma polêmica: afinal, escola é lugar para distribuir camisinha?
- Neste local, onde eles estão juntos em turmas de amigos, ter este acesso de maneira, sem preconceito, sem discriminação, com facilitação, acho que é o nosso papel – a firma o coordenador do Programa DST Aids, do Ministério da Saúde, Dirceu Grecco.
Até o início do ano que vem, pelo menos quarenta escolas públicas de três capitais brasileiras vão começar a testar as máquinas de camisinhas.
Mas o que pensam os adolescentes, Os mais interessados no assunto?
- Eu não concordo com estas máquinas aqui dentro da escola, porque tem os postos de saúde que disponibilizam. E eu acho que não é o local apropriado -afirma o estudante Mateus Vasconcelos, de 16 anos.
Como o acesso vai ser liberado apenas para alunos do ensino médio, só eles receberam a senha. Usar a máquina é fácil, basta digitar os números e pronto: o preservativo sai na hora.
Alunos, professores e pais de uma escola ainda estão discutindo, mas a maioria dos estudantes prefere que a máquina seja colocada em lugares como o banheiro. As escolas não são obrigadas a receber a máquina, mas quem aceitar a oferta do Ministério da Saúde deve promover campanhas e discussões sobre educação sexual – assunto que gera muita polêmica!
- Eu acho que a escola é o lugar adequado que os adolescentes possam adquirir a camisinha, que muitas vezes eles não conseguem em casa – diz o psiquiatra Francisco Baptista Neto.
Seu Édio é pai de oito filhos e sete deles estudam na mesma escola. Todos eles teriam acesso à camisinha. Ao responder se acha que isso, de alguma forma, facilitaria a conversa sobre sexualidade dentro de casa.
- Com certeza, pelo simples fato de chegar em casa contando a novidade, eu creio que vai abrir uma discussão da família com os alunos. Isso vai provocar. Eu acho que vai vir dos filhos para com os pais, que na verdade deveria ser o contrário, dos pais para os filhos – diz Édio dos Santos.
Uma psicopedagoga diz que a escola já está sobrecarregada.
- Eu sou completamente contra. As escolas não estão preparadas para este passo, podendo estar banalizando o ato sexual em si, incitando essas crianças a uma vida precoce, sexual, e o passo seguinte seria perguntar agora: onde eles fariam uso destas camisinhas? Nos corredores das escolas? – diz a psicopedagoga Albertina Chraim.
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