Por Cláudiop Santos
Condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como operador do mensalão, Marcos Valério afirmou, em depoimento prestado em setembro à Procuradoria-Geral da República, que Lula sabia de empréstimo do Banco Rural para o PT. Reportagem sobre o depoimento foi publicada nesta terça-feira (11) pelo jornal "O Estado de São Paulo".
Condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como operador do mensalão, Marcos Valério afirmou, em depoimento prestado em setembro à Procuradoria-Geral da República, que Lula sabia de empréstimo do Banco Rural para o PT. Reportagem sobre o depoimento foi publicada nesta terça-feira (11) pelo jornal "O Estado de São Paulo".
A assessoria do ex-presidente Lula informou que
ele não pretende se manifestar sobre a reportagem. No entanto,
ressaltaram os assessores, se mudar de ideia, Lula se manifestará por
meio de nota oficial. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel,
afirmou nesta terça-feira (11), por meio de sua assessoria de imprensa,
que não vai se pronunciar sobre o assunto até o final do julgamento do
mensalão pelo STF. A PGR não decidiu se vai abrir investigação sobre as
denúncias de Marcos Valério, nem se aceitará a proposta de acordo para
delação premiada, pretendida por ele.
Os ministros do Supremo receberam as informações com cautela e
alertaram que as declarações não mudam o julgamento do mensalão, já
concluído.
De acordo com a reportagem, Valério procurou voluntariamente a
Procuradoria-Geral após ser condenado pelo STF a 40 anos, 2 meses e 10
dias de prisão pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção ativa,
peculato, lavagem de dinheiro e evasão de divisas no processo do
mensalão. Em troca do novo depoimento e de mais informações sobre o
esquema de desvio de dinheiro público para o PT, Valério pretende obter proteção e redução de sua pena.
Os ministros do Supremo Tribunal Federal analisaram a denúncia da
Procuradoria-Geral da República e, ao votarem pela condenação da de 25
dos 37 réus, concluíram que existiu um esquema de distribuição de
recursos públicos e privados a parlamentares da base aliada em troca de
apoio ao governo Lula no Congresso, o chamado mensalão.
A oitiva de Valério ocorreu no dia 24 de setembro, em Brasília. Começou
às 9h30 e terminou 3 horas e meia depois. As declarações estão em 13
páginas. O "Estado de São Paulo” afirma que teve acesso à íntegra do
depoimento, assinado pelo advogado do empresário, o criminalista Marcelo
Leonardo, pela subprocuradora da República Cláudia Sampaio e pela
procuradora da República Raquel Branquinho.
No depoimento, segundo o jornal, Marcos Valério disse que esteve com o
então presidente Lula no Palácio do Planalto, acompanhado do então
ministro da Casa Civil, José Dirceu, sem precisar a data. Valério
afirmou, de acordo com o jornal, que Lula deu "ok" aos empréstimos do
Banco Rural para o PT. Valério também disse no depoimento, ainda segundo
o "Estado de São Paulo", que repassou R$ 100 mil para despesas pessoais
de Lula, por meio da empresa Caso, de Freud Godoy, então assessor da
Presidência da República.
A CPI dos Correios, conhecida como CPI do mensalão, comprovou
recebimento de depósito de R$ 98.500 do Marcos Valério para a empresa
Caso, segundo a reportagem do jornal. Ao investigar o mensalão, a CPI
dos Correios detectou, em 2005, um pagamento feito pela SMPB, na agência
de publicidade de Valério, à empresa de Freud. O depósito foi feito,
segundo dados do sigilo quebrado pela comissão, em 21 de janeiro de
2003.
A reportagem do jornal afirma ainda que, no depoimento, Marcos Valério
disse que o então presidente Lula e o então ministro da Economia,
Antônio Palocci, fizeram gestões junto à Portugal Telecom, para que a
empresa repassasse R$ 7 milhões ao PT. Tais recursos teriam sido pagos
por empresas fornecedoras da companhia, por meio de publicitários que
prestavam serviço ao PT. Segundo a reportagem do jornal, as negociações
com a Portugal Telecom estariam por trás da viagem feita em 2005 a
Portugal por Valério, seu ex-advogado Rogério Tolentino e o
ex-secretário do PTB Emerson Palmieri.
Por fim, Marcos Valério disse aos procuradores, segundo o jornal, que o
PT arcou com despesas de R$ 4 milhões com a defesa dele. No depoimento,
segundo a reportagem, Marcos Valério contou que soube em conversa com o
ex-secretário do PT Silvio Pereira que o empresário Ronan Maria Pinto
vinha chantageando Lula, Dirceu e Gilberto Carvalho. Outro empresário
amigo de Lula, José Carlos Bumlai, teria pago R$ 6 milhões para comprar
50% do Diário do Grande ABC, que vinha publicando matérias sobre o
assassinato de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André.
A reportagem relata ainda que Marcos Valério disse ter sido ameaçado de
morte por Paulo Okamotto, atual diretor do Instituto Lula e amigo do
ex-presidente. "Se abrisse a boca, morreria", disse o empresário no
depoimento à Procuradoria-Geral da República. "Tem gente no PT que acha
que a gente devia matar você", teria dito Okamotto a Valério, em
encontro num hotel em Brasília, em data não informada pelo depoente,
segundo o jornal.
G1
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