— Por ironia, hoje ele está no PSB de Eduardo Campos.
Tudo bem. Não tem nenhum problema. Se ele não fizer nenhuma besteira,
está ótimo. Vamos lá, estamos juntos. O que é fundamental, e a
experiência do PPS indica isso, é que, mesmo com esse pluralismo, você
não pode perder os seus valores. E esse novo partido não vai perder. Não
vamos vetar ninguém, mas ninguém pode chegar aqui é adotar práticas que
não sejam condizentes com o que nós, historicamente, representamos.
Isso é um processo. Já vivemos essa experiência.
— Espera atrair quantos novos filiados?
Não tenho estimativas. Não estamos conversando nada, porque temos
primeiro que definir a fusão, o que faremos nesta quarta-feira. Tenho
recebido muitos telefonemas dos Estados, inclusive de São Paulo. São
veradores, prefeitos e deputados estaduais. Os deputados federais nós
vamos ver no que vai dar.
— Acha que há políticos desconfortáveis em outras legendas?
Ah, claro. Se não tivesse, o Kassab não estaria tão aperreado. E não é
só Kassab. Pelo que vocês informam, a dona Dilma também está preocupada.
Não creio que eles estejam tensos porque pode vir alguém de partidos da
oposição. Estão tensos porque pode sair gente da base do governo.
— A fusão foi antecipada para se precaver contra o projeto de lei que dificulta a criação de novos partidos? É
exatamente isso. A lei, se for aprovada, não pode retroagir. Vamos
existir como novo partido na vigência do mesmo ordenamento jurídico que
viabilizou o PSD. O partido político é autônomo. De acordo com a lei,
ele é que decide os seus destinos, ele se autodetermina. Pode se fundir,
incorporar-se a outro, pode se extinguir. E também pode criar um novo
partido por sucessão, tal como o PCB fez lá atrás, tornando-se PPS. O
partido é livre para definir os seus destinos. Só não pode infringir a
lei. Pois bem, nós faremos um congresso conjunto com PMN, elegeremos um
órgão de direção nacional e faremos o registro no cartório de títulos e
documentos. A partir desse instante, o partido já terá existência
formal. Depois, comunicaremos ao TSE.
— Não teme que o PPS seja tachado de oportunista? do
estamos fazendo isso. Vamos fazer um Congresso, a lei de fusao (9/096,
de 95) diz que orgaos nacionais de deliberaçao dos partidos votaram em
sessao conjunta, maioria absoluta, projeto e elegerao orgao de direçao
nacional, que promoverá o registro do novo partido. Começa com isso,
faz-se o reigstro em cartório de títulos e documentos da ata da reniao
conjunta que decidiu pela fusao e depois a comunicaçao ao TSE. A fusao
se realiza no momento do registro noc artório de titulos e documentos.
— Continua achando que o projeto que altera as regras para a criação de partiros é um golpe?
Claro. O que está querendo é acabar com algo que o José Serra chamou de
portabilidade [o deputado que muda de partido leva o tempo de televisão
e a cota do fundo partidário proporcional à sua última votação]. Chamo
de casuísmo e golpe. Nos perguntamos: por que vocês não discutem a troca
de regras para a próxima legislatura. Para o futuro, tudo bem, podemos
até discutir. O que não dá é para proibir isso agora, depois de que o
PSD ter sido beneficiado.
— Não teme que o PPS seja tachado de oportunista?
Nenhum receio. Até porque já foi permitido para privilegiar um partido
que se vinculou ao governo. Nesse momento, eu diria que não é
oportunismo, mas senso de oportunidade. Não fui eu que inventei isso. O
PPS foi atingido. Perdeu quatro deputados federais para o PSD. E
Por Cláudio Santos
A Mobilização Democrática, legenda a ser criada nesta quarta-feira
(17) a partir da fusão do PPS com o PMN, enxerga no governador
pernambucano Eduardo Campos (PSB) a melhor alternativa para a sucessão
de 2014. “Isso é bom inclusive para o próprio Aécio Neves, porque a
presença de mais candidatos na disputa força a realização de um segundo
turno”, disse o deputado Roberto Freire, presidente do PPS, em
entrevista ao blog.
O novo partido foi constituído para oferecer
uma “janela” aos políticos descontentes com suas atuais legendas. Freire
informa que serão bem-vindos inclusive insatisfeitos do recém-criado
PSD e do DEM. “Não temos razão para adotar filtro ideológico. A
realidade política que estamos vivendo exige uma amplitude maior, pede a
formação de uma frente democrática.” Espera trazer o tucano José Serra?
“Estamos no jogo, esperando até o último segundo”, responde Freire.
Abaixo, a entrevista:
—
A nova legenda, que se define como da esquerda democrática, não irá se
descaracterizar ao receber políticos de partidos como PSD e DEM?
É por isso que o partido vai ser chamado de Mobilização Democrática,
embora tenha uma componente de esquerda, inclusive com a tradição
comunista, que o PPS traz. Não vamos ficar circunscrevendo nossa ação a
quem for de esquerda.
— Não receia ser comparado a Gilberto Kassab, que disse que o PSD não seria de esquerda nem de direita nem de centro?
Não. Nosso partido, se você quiser situar, será de centro-esquerda. A
componente de esquerda, inclusive comunista, vai se fazer notar, junto
com setores da sociedade que são democráticos. Nosso projeto é de
natureza essencialmente democrática. Diria a você que, em função da
realidade brasileira, estamos criando uma frente democrática tal como
construímos lá atrás, no velho MDB, na luta contra a ditadura.
— Os tempos são outros, não?
É claro que há todas as diferenças. Não estamos numa ditadura. Mas nós
estamos construindo uma alternativa política que tem uma esquerda, até
de origem comunista, e a abertura concreta para a formulação conjunta
com políticos e lideranças democráticas do país. Entre os nomes que
podemos imaginar para disputar o governo teremos, no campo
oposicionista, inclusive a possibilidade de caminhar com um candidato de
esquerda.
— Refere-se a Eduardo Campos?
Isso pode ocorrer, na hipótese de ele vir a ser candidato. Marina Silva
também representará uma candidatura democrática e progressista. Há
várias alternativas.
— Que alternativa o novo partido deve adotar?
Diria a você que a alternativa que mais se fortaleceu dentro do PPS com
essa fusão, sem dúvida nenhuma, é essa que vê na candidatura de Eduardo
Campos a melhor opção para o partido. Até porque a fusão foi muito
pensada por esse grupo.
— Ainda não citou Aécio Neves. Exclui o nome dele por considerá-lo de centro? Não.
Defino Aécio como um social-democrata, um homem de esquerda. Vou
lembrar um episódio que poucos sabem. Quando era mais jovem, o Aécio foi
junto conosco a um Congresso da Juventude, na delegação que o PCB
enviou a Moscou. Ele sempre teve bom diálogo conosco. É um democrata.
— Mas não terá o apoio, é isso? Aécio
merece todo o nosso respeito e poderá merecer o voto, sem nenhuma
dúvida. Podemos ter outra opção. Mas isso é importante até do ponto de
vista tático. É bom inclusive para o próprio Aécio, porque a presença de
mais candidatos força a realização de um segundo turno. Eu creio que
isso é taticamente o mais correto para a oposição brasileira. Não vejo
razão para concentrar a disputa no primeiro turno. Isso é para a
Venezuela, aqui não.
— Para enfatizar: não haverá filtro ideológico para as filiações à nova legenda?
Não. A mudança de PCB para PPS já não observou esse filtro ideológico.
Era um partido de esquerda, mas não tínhamos essa exigência. Até porque
nós superamos a fase do PCB, do marxismo-leninismo, do centralismo
democrático. Agora, nessa fusão, mais uma vez não temos razão para
adotar filtro ideológico. A realidade política que estamos vivendo exige
uma amplitude maior, pede a formação de uma frente democrática.
— Todos pensam assim? Algumas
pessoas dizem: ah, pode vir fulano ou beltrano. Não estou citando nome
exatamente por isso. Nós, do PPS, já passamos por isso. No nosso
processo de mudança, tivemos aqui ou acolá alguém que trouxe práticas
que não eram condizentes com o que pensávamos no partido. E o processo
foi depurando isso. Lembro do próprio Ciro Gomes. Ajudou o partido como
candidato [à Presidênciaeu não
reclamei. Tudo bem. Saíram do partido e o Supremo Tribunal Federal disse
que era correta a interpretação de que eles levavam o tempo de tevê e o
fundo partidário. Tudo tudo bem. Agora, não venham dizer que estamos
inventando isso. De nossa parte, o que há é o senso de oportunidade.
Basta ver o protagonismo que passamos a ter nesse processo de 2014.
— Ainda tem a expectativa de trazer José Serra?
Expectativa a gente nunca perde. No futebol, os segundos são
irrelevantes. Mas no basquete cada segundo pode ser decisivo. Já joguei
basquete e sei o que o último segundo pode representar. Estamos no jogo,
esperando até o último segundo.
(Publicado originalmente no blog do jornalista Josias de Souza, Portal UOL)
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