Psicólogo Haroldo Lopes
LUTO
É triste, porém, mais cedo ou mais tarde, todos teremos de enfrentar a morte de quem amamos, e a primeira constatação é a de que somos humanos e temos todo o direito de sentir tristeza, de chorar -e de chorar pelo desaparecimento de alguém. Isso não é sinal de fraqueza, e sim de ser uma pessoa sensível.
Todos nós sabemos que vamos morrer. Todos já pensamos na morte, nossa ou de entes queridos; porém, quando esta chega, a situação muda, e realmente sentimos na alma a dor profunda e sufocante.
Em geral, quando perdemos um ente querido podemos apresentar diferentes comportamentos, sendo os mais comuns a crise de choro e a negação. Outros sentimentos também podem surgir, como raiva, medo, culpa e aceitação.
Chorar é normal, e todos os envolvidos na perda devem chorar juntos. Que ninguém seja poupado da informação do óbito; todos têm o direito à verdade. Caso alguma pessoa muito próxima do falecido seja muito dependente ou já esteja passando por momentos difíceis, a recomendação é a de que se lhe conte a verdade e que lhe sejam dados todo o amparo, carinho, companhia e, se necessário, auxílio médico adequado.
Quando
alguém morre, algumas pessoas podem não chorar e, aparentemente, agir
com "normalidade", sem alterações. Às vezes, até com parentes diretos
esse comportamento é notado. Por exemplo: o sr. P. L. perdeu seu filho
em um acidente de trânsito. Não derramou uma lágrima durante toda a
cerimônia, até no sepultamento. Não tocou no assunto nem desabafou com
ninguém. Foi como se nada tivesse sentido.
Engano.
O sr. P. L. estava negando! A negação é um mecanismo de defesa em que
se ignora um fato muito traumático, em consequência de este ser quase
insuportável, a sabedoria do
organismo adia a vivência do trauma. Caso contrário, aquele que nega
poderia ter sérios problemas de saúde diante da dura realidade.
Normalmente,
quem nega a morte de alguém terá, em algum momento, de efetuar o
"enterro", provavelmente mais à frente e de forma lenta, talvez com
sintomas de conversão, ou seja, somatizando, e precisará de muito apoio
de parentes e amigos para vivenciar a realidade da perda e "sepultar" o
ente morto.
Esses
estados de negação refletem a dureza do choque e podem levar a breves
internações em clínicas de repouso. É conveniente que os familiares
fiquem atentos à pessoa que nega a "morte de alguém. Aos poucos, deve-se
tocar no assunto e, ao mesmo tempo, oferecer-lhe apoio, incentivando
que ela substitua a negação pelo choro e manifeste todas as emoções
contidas, de modo que coloque para fora a revolta, a culpa, o medo, até
que a negação seja totalmente abandonada, para alcançar a aceitação.
Evidentemente, o processo não é fácil, porém, é melhor quando a pessoa
chora, fala de culpa, expressa o medo de viver sem o ente que se foi.
Muitas
vezes, as pessoas não alteram o quarto, as roupas e os pertences do
falecido, como uma forma de alimentar a fantasia do possível retorno
deste, processo que também deve ser eliminado para que o luto seja
vivido e, em todos os sentidos, o morto seja enterrado. Chorar, dar as
mãos e ficar juntos é a melhor maneira de dividir a dor de quem está
sofrendo muito a perda de alguém.
Quando
um ente querido morre, é muito comum os parentes próximos se culparem
pelas brigas, por não terem tido tempo para pedir desculpas ou por terem
provocado tristeza na pessoa que se foi em qualquer período da vida.
Mas lembre-se de que é impossível, no relacionamento humano, não ocorrer
desentendimentos. Até mesmo aquele que faleceu se desentendeu, em vida,
com outras pessoas.
Ainda
pode ocorrer que se participe da morte de alguém, como no caso do sr.
A. C., que dirigia um carro o qual colidiu com outro, vindo o seu amigo a
falecer. O sr. A. C. passou a ter sentimentos de culpa, demorando a
entender que não foi o culpado pelo acidente e que ele poderia ter
falecido, e não o amigo. Até chegar a esse ponto, o sr A. C. teve de
chorar muito, mas percebeu o exagero da sua censura interna.
Por isso, partindo do princípio de que não teve a intenção de prejudicar, não se culpe pela morte de ninguém.
A
sra. L. C. culpou-se pela morte do pai, que foi atropelado, porque
pedira ao idoso que comprasse pão. Por muito tempo, dizia: "Se eu
tivesse ido comprar no lugar dele, a desgraça não teria acontecido!".
Caso você esteja se culpando pela morte de alguém, entenda que a morte é
um processo inevitável e que, quando estamos desestruturados, sempre
achamos algum ponto para nos responsabilizar, erroneamente, por um
evento natural marcado para todos. Pense nos bons momentos que teve com o
ser amado. Converse com a pessoa morta, peça-lhe desculpas e deseje-lhe
paz, perdoando-a também. Faça um breve diálogo justo, porém, após fazer
as pazes com o falecido, enterre-o. Quando digo dessa forma, não quero
dizer que não podemos ter saudades e até chorar. Sempre que as sentir,
chore. Divida as saudades com alguém.
Caso
você tenha medo de viver só, com a perda do cônjuge, lembre-se de que o
Homem é tão grande quanto a medida do seu pensamento. Se você se
imaginar cuidando de si mesmo, assim poderá fazê-lo, mesmo sob o efeito
das saudades.
Por
falar em medo de viver só, as crianças também devem ser avisadas do
falecimento de um dos pais. Se elas forem muito pequenas (até 6 anos),
diga-lhes quem morreu e pergunte-lhes se gostariam de vê-lo. É
importante dizer à criança que, em caso de resposta afirmativa, a pessoa
falecida estará muito diferente no caixão. Caso ela opte por não ver,
não insista e muito menos a engane, dizendo, por exemplo, que o pai foi
fazer uma viagem longa. A criança poderá deduzir que este não a amava,
pois não voltou mais. Devemos dizer que morrer significa não voltar mais
e que o fato não é uma decisão do pai. Dê-lhe o exemplo das flores:
elas nascem, crescem e, um dia, morrem. Diga-lhe que conosco acontece o
mesmo.
Conte
sempre a verdade para a criança e mostre-lhe que não ficará só, pois a
mãe estará com ela, ou vice- versa, caso o falecimento seja materno.
Nada de forçar a criança a beijar o pai ou a mãe no caixão, a não ser
que ela mesma o solicite.
A
raiva ocorre, e quem fica se pergunta: "Por que meu pai, tão novo?!",
"Por que meu filho, tão pequeno?!", "O que fiz para Deus?". Quem estiver
nesse estágio deverá procurar alguém para conversar, desabafar, falar
de sua raiva, contar por que se sente injustiçado.
Acredite
que no começo será difícil: difícil entender a vida, a finalidade dela e
as suas regras. Talvez, com o passar do tempo, possamos compreender que
somos limitados para perceber o Universo, Deus e a existência. Penso
que, no Cosmo, há outras dimensões e mundos paralelos e que os nossos
cinco sentidos não são suficientes para assimilá-los. A verdade é que,
mais cedo ou mais tarde, a raiva passa, aceitamos a morte, e muitos
alimentam a possibilidade de um reencontro feliz com os seres que se
foram, nutrindo-se das lembranças agradáveis. Alguns até voltam a rir.
Caso
todo esse processo da perda de alguém querido dure mais de trinta dias
com choro, raiva, culpa, medo, bem como com a perda ou o ganho de peso e
insônia, o médico deverá ser consultado, pois é provável que o luto
tenha evoluído para depressão.
CONSELHOS
- Lembre-se: é importante chorar e enfrentar as fortes emoções quando se perde alguém.
- Caso você se sinta culpado por ter participado de um acidente em que alguém perdeu a vida, lembre-se de que não houve a intenção. Portanto, aceite o fato.
- É normal, antes de conformar-se com o ocorrido, sentir raiva, medo, culpa e tristeza.
- Não se deixe adoecer. Cuide-se! Outros precisam de você.
- Converse sempre que estiver angustiado. Chore. Tenha saudades.
- Livre-se de todos os pertences do falecido, como roupas, sapatos etc. Infelizmente, ele morreu!
- Havendo muito sofrimento, aumento ou perda de peso, insônia, pessimismo, choro, raiva e medo por mais de trinta dias consecutivos, procure um médico. Você pode estar deprimido.
- Conte a verdade às crianças. Nunca lhes diga que o pai ou a mãe (falecidos) foram fazer uma viagem longa etc.
- Se não teve tempo de se despedir do ente morto ou de pedir desculpas a ele, faça-o via pensamento e resolva essa pendência.
- Lembre-se: a morte é uma metamorfose, a passagem de uma forma para outra. Por exemplo: a lagarta, que deixa o casulo com um novo corpo, em forma de borboleta.
- Lembre-se também das experiências de quase-morte (EQMs), descritas no livro do dr. Raymond Moody, de pessoas que estiveram mortas durante três minutos e foram revividas pelo desfibrilador e por medicamentos. Essas pessoas, com relatos mundiais, contaram que estiveram vivas e conscientes o tempo todo e que viram seu corpo, na sala de emergência, ser ressuscitado pelos médicos.
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