" Sigo em frente, pra frente eu vou
sigo enfrentando as ondas onde muita gente naufragou ..."



sábado, 28 de abril de 2012

Carlos Cachoeira: a bomba-relógio do Planalto Central


Por Cláudio Santos
Nos últimos dois meses o Brasil tem acompanhado os desdobramentos do maior escândalo político desde o mensalão, de 2005. Desta vez, toda a trama gira em torno de um único homem: Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. O empresário foi preso no dia 29 de fevereiro deste ano pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo, que desarticulou o esquema de exploração ilegal de jogos de azar chefiado por ele em Goiás há 17 anos. As investigações, porém, apontaram que os tentáculos do bicheiro iam muito além de máquinas caça-níqueis.

Carlinhos Cachoeira já havia protagonizado outro escândalo, em 2004, quando divulgou um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina em troca de ajuda para vencer licitações do governo. As imagens feitas pelo próprio empresário chegaram à imprensa e contribuíram para iniciar o processo de desgaste de Dirceu.

O empresário já era conhecido por trabalhar com jogo do bicho, prática considerada uma contravenção penal desde 1941. Seu pai, Sebastião Almeida Ramos, começou a anotar as apostas de jogadores nos anos 50, em Anápolis (GO), e logo se associou a um bicheiro famoso na cidade. Carlinhos aprendeu o ofício com o pai e aos poucos assumiu o negócio da família.

Ao ganhar poder no Estado de Goiás, o garoto tímido e sem estudos do interior transformou-se em empresário de diversos ramos e, naturalmente, ampliou sua rede de relacionamento. A investigação da PF aponta que delegados, policiais e integrantes da Justiça goiana faziam vista grossa para a exploração ilegal de jogos de azar comandada pelo bicheiro em troca de uma fatia dos lucros do esquema.

Política

Após a prisão de Cachoeira, gravações feitas pela PF com autorização da Justiça começaram a vazar. Elas indicaram que o empresário tinha muitos amigos que defendiam seus interesses no Congresso Nacional e nos governos de Goiás e do Distrito Federal. A relação com o senador Demóstenes Torres foi a que mais chocou o País. Demóstenes era tido como “o bastião da moralidade”, ícone da oposição.

Ao terem seus nomes ligados ao bicheiro, muitos poderosos negaram conhecê-lo. Outros assumiram uma amizade inocente ao dizerem que não sabiam dos negócios ilegais do empresário. Outros ainda afirmaram não ver problema em ser amigo de um bicheiro.


Em entrevista a jornais nesta semana, a mulher de Cachoeira, Andressa Alves Mendonça, revelou um lado sensível do marido que as gravações da PF não identificaram. Segundo Andressa, o empresário é romântico, gosta de dançar e tem bom coração.

– Julgam o Carlinhos por isso ou por aquilo. Mas a pessoa que eu conheço não é essa. O Carlinhos que eu conheço faz caridade, doa caminhão de macarrão para creche, doa caminhão de brinquedo. É humano, comprometido e responsável.

Andressa, que antes era casada com o suplente de Demóstenes Torres, Wilder Morais, comenta que Carlinhos Cachoeira ficou deprimido enquanto estava no presídio de segurança máxima de Mossoró (RN), perdendo 15 quilos. O motivo de sua tristeza seria a convicção de ter sido traído por antigos aliados, usado como “bode expiatório” e mantido como “preso político”.

O jornalista Mino Pedrosa, ex-assessor do bicheiro e que ainda mantém ligação com ele, publicou textos em seu blog detalhando o dia da prisão de Cachoeira. Segundo ele, o empresário teria chorado “lágrimas de ódio” enquanto sua cabeça era raspada. Pedrosa acrescenta que o contraventor “detém um arsenal capaz de mudar a história política do País” e que “sempre foi muito prevenido”, registrando em áudio e vídeo os encontros que tinha com seus “parceiros”.


Pela capacidade destruidora que as palavras de Carlinhos Cachoeira podem ter, caso ele resolva dizer tudo o que sabe, o empresário tem sido chamado de “o futuro PC Farias”, uma referência ao empresário que foi um dos personagens-chave do escândalo que motivou a queda do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Paulo Cesar Farias sabia demais e foi encontrado morto ao lado da namorada em 1996.

O depoimento de Carlos Augusto Ramos é, obviamente, o mais aguardado pelos integrantes da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) que vai investigar a relação do bicheiro com políticos e agentes públicos. Enquanto isso não acontece, afirma a mulher de Cachoeira, ele usa os dias no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, para ler as notícias e o inquérito que tramita no STJ (Superior Tribunal de Justiça) sobre seu caso. E se prepara para se defender – ou atacar.

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