" Sigo em frente, pra frente eu vou
sigo enfrentando as ondas onde muita gente naufragou ..."



segunda-feira, 30 de abril de 2012

Casal afogado no México se desviou da trilha permitida no mergulho

Por Cláudio Santos

“Eles iriam pra uma cidade lá do México onde tem pirâmides, eu não me lembro o nome do local, e depois não tive mais contato", conta o pai de José. 

"Eu falei para o meu filho: ‘Marcelo, passa uma mensagem para sua irmã para ela entrar em contato com a gente, porque já faz tanto tempo, ela não está dando notícia’”, conta a mãe de Renata. 

Renata Quirino, médica. José Brugnaro Neto, engenheiro. Playa del Carmen, paraíso mexicano que remete a romance e mergulhos. Destino de José e Renata. 

"Aventura mexicana" é o nome do hotel. Foi ali que começou a jornada do casal. Contrataram um guia de mergulho, Ismael Garcia Manzanares. Ele trabalhava temporariamente para uma agência. E lá alugaram os equipamentos. 

Deixaram registrada a experiência no mar. Entre 50 e 55 mergulhos. Desta vez, José e Renata escolheram um mergulho diferente. A Península de Yucatan, no Golfo do México, está sobre vários rios. 

Há alguns acessos para debaixo da terra - são os chamados "cenotes'. Permitem a passagem da luz e levam a um outro mundo. Isso para os mayas - que aqui chegaram primeiro. Para os turistas é a porta de entrada de um passeio em água doce e cristalina. 

Fim da tarde de 19 de abril: José e Renata foram para o último mergulho do dia. Local: cenote de Chac Mool. Desceram às 16h. 

"Às 17h30 deveriam estar de volta. Às 18h10 peço a um funcionário que vá ao cenote. Lá dizem que os mergulhadores já estavam voltando," conta Álvaro Alamada, diretor da agência de mergulho. Mas ninguém apareceu. E Alvaro Alamada foi pessoalmente ao cenote. 

"A primeira coisa que vi foi o carro deles. Pensei que eles estivessem passeando na selva à noite, sempre com a esperança de que estivessem bem. Quando olho para o dentro do carro vejo que falta equipamento de mergulho", conta Alvaro. 

Eles ainda estavam na água. O serviço de resgate foi acionado. E depois de quatro mergulhos os corpos foram encontrados. 

Desde então Chac Mool está fechado para o público. Mas o Fantástico conseguiu autorização para entrar. Antes de fazer o último mergulho, os brasileiros desceram uma escada que leva até a caverna de Chac Mool. Quem vai apresentar o lugar é Fernando Prieto, o instrutor que resgatou os corpos. 

"A regra mais importante é manter-se ao lado da linha", diz o instrutor. 

16h30. É praticamente o horário que o casal de brasileiros desceu na caverna. 
E lá vai o repórter Rodrigo Bocardi, o cinegrafista Alberto Frisoni e dois guias, dois instrutores de mergulho. Luiz e Fernando - cada um deles com mais de 2 mil mergulhos neste mesmo local. 

Cai a luz. Mas não acaba a visibilidade. As lanternas ajudam. E com elas enxergamos com toda clareza a corda guia amarela. Em poucos minutos estamos próximos de uma outra entrada da caverna. A luz do sol nos proporciona uma pintura. 

Até ali um mergulho tranquilo. Não há correnteza. Às vezes a água fica salobra. Mas não nos tira a visão. No meio das rochas as estalactites. Elas são a atração deste mergulho. Em alguns pontos a corda amarela determina uma mudança radical de rota. Leva você a passar por lugares bonitos. E estreitos. 

Na maior parte do mergulho você percebe a luz do sol vindo de algum canto. E a cada 60 metros, sempre há uma saída. Por isso, não é exigido dos mergulhadores um treinamento especial. 

Depois de quarenta minutos já com o cilindro de ar pela metade vemos um largo túnel. E o guia alerta. Para lá, não. Siga a linha amarela. O casal de brasileiros e o guia espanhol não fizeram isto. 

Eles tinham mergulhado em um ponto. Depois de completarem a volta, deveriam ter saído pelo mesmo lugar por onde entraram. Mas seguiram por uma caverna à esquerda e se perderam. 

Vamos em frente, sem saber o que levou os brasileiros ao caminho proibido. Chac Mool está aberto aos turistas há 15 anos. Recebe 40 mergulhadores por dia. Ninguém tinha morrido ali. 

Realmente a corda guia amarela que te dá segurança. Ela te traz para a saída da caverna. Em alguns pontos, lá dentro no meio da escuridão, fica fácil se perder se se afastar um pouco da corda. "Não se pode querer ir a lugares bonitos e abandonar a corda", reafirma o instrutor. 

E por que Renata, José e o guia se afastaram? A única certeza de Fernando é que o guia tentou dar ar para Renata. Ele diz isso por causa da posição em que foi encontrada a mangueira reserva do instrutor. 

"Nunca vamos saber o que aconteceu. Às vezes curiosidade, às vezes atrevimento", diz o instrutor. A investigação ainda não foi concluída. Mas para o Ministério Público foi um acidente. A notícia às duas famílias foi levada pela empresa onde José trabalhava. 

“Foram até o depósito conversar com meu marido. Aí ele me abraçou e falou ‘nós não temos mais nossa filha’”, lembra a mãe de Renata. 

A empresa cuida da liberação dos corpos, que continuam no IML de Playa del Carmen. Lá está também a bolsa que o casal deixou no carro. Dentro dela, a máquina... e as últimas fotos.

G1

Nenhum comentário:

Postar um comentário