" Sigo em frente, pra frente eu vou
sigo enfrentando as ondas onde muita gente naufragou ..."



sábado, 7 de abril de 2012

Um ano após Massacre de Realengo, sobreviventes lutam para superar trauma


04montagem
Na foto, três das 12 vítimas que sobreviveram e a nova fachada da escola Tasso da Silveira

Por C,láudio Santos

O dia 7 de abril de 2011, uma quinta-feira que parecia ter começado como outro dia qualquer da semana, mudou para sempre a vida dos alunos e funcionários da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro. Às 7h, os portões se abriram e as crianças e adolescentes entraram para estudar. Ninguém imaginava que, uma hora depois, um homem armado mataria 12 alunos e deixaria outros 12 feridos.

Um ano depois, o tempo não é suficiente para que as vítimas superem a tragédia. Aluna do 9º ano (antiga 8ª série), Thayane Tavares, 14 anos, depende de uma cadeira para se locomover. Após o massacre, o sonho de ser atleta teve que ser adiado.

A menina perdeu os movimentos das duas pernas depois de ser atingida por quatro tiros disparados por
Wellington Menezes de Oliveira. Thayane já mexe a perna esquerda, mas ainda precisa de três sessões de fisioterapia por semana.

— Lembrar daquele dia me traz tristeza. Superar, numa boa, ninguém supera. A ficha não caiu. Muitas vezes eu não acredito que estou na cadeira de rodas.


E as sequelas não são apenas físicas. O coração da adolescente dispara toda vez que ela houve um barulho diferente na escola. Thayane conta que, durante uma aula, a luz acabou e os colegas começaram a gritar. Isso foi o suficiente para ela voltar a ficar assustada.


— Eu fiquei olhando aquele desespero dos meus colegas e meu coração disparou, o peito chegou a doer. Toda vez que eu vivo uma situação de tensão, eu revivo aqueles momentos.


O medo também faz parte da rotina da professora Leila D’Angelo. Funcionária da escola há 18 anos, ela estava na sala em que Wellington entrou e fez as primeiras vítimas.


— Se eu vejo uma pessoa estranha na escola, eu volto a me assustar. Hoje, por exemplo, eu entrei no elevador com um homem desconhecido e já fiquei com medo.


Baleado na cabeça e no olho direito, Luan Victor Santos, 14 anos, teve que abrir mão do que mais gostava de fazer: jogar futebol com os amigos.


— Não faço mais atividade física. Sinto falta disso.


Além de perder parte da visão, ele usa uma prótese na cabeça. Luan foi o último aluno ferido a receber alta do hospital. Em casa, o menino quis retribuir em dobro o carinho que recebeu da mãe enquanto esteve internado.


— Eu me tornei uma pessoa mais carinhosa depois disso tudo, fico mais com os meus pais. Minha mãe esteve do meu lado o tempo todo.


A recuperação de Luan não surpreendeu apenas os médicos. A mãe de Luan, Fátima Santos Pereira, chegou a pensar que o filho não resistiria.


— Quando o Luan foi internado, eu perguntei para um médico qual era a chance de ele viver. Pedi para ele dar uma nota de zero a dez e ele preferiu não responder. E olha o que aconteceu: ele está aqui com a gente.


As paredes coloridas e as novas instalações da Escola Municipal Tasso da Silveira não devolveram a tranquilidade aos alunos. Renata de Lima Rocha, 14 anos, ferida nas costas, disse que jamais esquecerá aquela trágica quinta-feira.


— A escola passou por reformas, mas mesmo se tirassem aquela escada de lá [por onde o atirador passou], o que aconteceu nunca sairia da minha cabeça. Eu sempre vou saber que ali ocorreu o massacre.


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