Por G1
Mais
de três anos após protagonizar ao vivo pela TV um dos sequestros mais
longos do país, que terminou com a morte da ex-namorada, Eloá Cristina
Pimentel, Lindemberg Alves Fernandes começa a ser julgado nesta
segunda-feira (13) no Fórum de Santo André, no ABC, pelo assassinato da
adolescente de 15 anos.
Além
desse crime, o réu responde por duas tentativas de homicídio (contra
Nayara Rodrigues da Silva, baleada no rosto, e o sargento da Polícia
Militar Atos Antonio
Valeriano,
que escapou de um tiro); cárcere privado (de Eloá, Victor Lopes de
Campos, Iago Vilera de Oliveira e duas vezes de Nayara) e disparo de
arma de fogo (foram quatro) praticados entre os dias 13 e 17 de outubro
de 2008 dentro do apartamento onde Eloá morava, no segundo andar de um
bloco da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) no
Jardim Santo André.
O
julgamento de Lindemberg está marcado para iniciar às 9h e deve durar
três dias, segundo o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). Ao todo,
foram arroladas 19 testemunhas para prestarem depoimentos, que poderão
ser gravados pela Justiça. Pela lei, as testemunhas que moram fora de
Santo André não precisam comparecer. Mais de 180 pessoas deverão
assistir ao júri na plateia, entre parentes do réu, familiares das
vítimas, público interessado que adquiriu senhas, membros da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB), estudantes de direito, magistrados do
Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) e jornalistas (serão cerca de
50 profissionais). A segurança em torno do fórum será reforçada pela PM
para garantir a integridade física das pessoas que participarão do júri.
Estão sendo aguardados eventuais protestos do lado de fora do prédio.
Depois
será feito o interrogatório de Lindemberg, que está preso
preventivamente na Penitenciária de Tremembé, no interior de SP, à
espera do júri. Quando foi preso pela PM, ele nunca falou oficialmente
sobre o desfecho do sequestro na delegacia, na reconstituição e na
audiência de instrução na Justiça. Terá de comparecer agora ao fórum,
mas tem o direito continuar em silêncio se quiser e não responder a
nenhuma pergunta.
Sete
jurados vão votar secretamente e decidir se o acusado é culpado ou
inocente. Em seguida, a juíza Milena Dias, que presidirá o júri, contará
os votos e dará a sentença de condenação ou absolvição do réu. Segundo o
Ministério Público, responsável pela denúncia, se Lindemberg for
condenado por todos os crimes atribuídos a ele, a pena mínima poderá ser
de 50 anos e a máxima de 100 anos de reclusão. Pela legislação do país,
no entanto, ninguém pode ficar preso a mais de 30 anos.
O caso
De
acordo com a promotora Daniela Hashimoto, movido por ciúmes da Eloá
porque a ex não queria mais reatar o romance de três anos, o então
auxiliar de produção Lindemberg, então com 22 anos, invadiu armado o
apartamento da estudante em Santo André disposto a matar por vingança no
dia 13 de outubro de 2008. Lá, manteve Eloá e outros três colegas de
escola dela como reféns.
Na
versão da acusação, Lindemberg ainda atirou em direção ao sargento Atos
Antonio Valeriano, o primeiro policial militar que tentou negociar a
liberação dos reféns e rendição do sequestrador. Com a chegada do Grupo
de Ações Táticas Especiais (Gate) da PM, que assumiu as conversas com o
agressor, os alunos Victor Lopes de Campos e Iago Vilera de Oliveira
foram libertados por ele.
Nayara
Rodrigues da Silva, amiga de Eloá, também chegou a ser solta após
negociação entre o Gate e Lindemberg em troca de religar o fornecimento
de água e da energia elétrica do apartamento. Mas a adolescente, que
estava com 15 anos na época, retornou ao imóvel dias depois por decisão
da PM, que atendeu a exigência do sequestrador: ele havia combinado que
só iria se entregar e libertar Eloá se Nayara fosse até a porta da
residência para que eles saíssem todos juntos. Isso, no entanto, não
ocorreu: Lindemberg ordenou que Eloá puxasse Nayara para dentro do
apartamento e voltou a manter as amigas como reféns.
Entendendo
que não havia mais avanço nas negociações para o fim do sequestro, o
Gate decidiu invadir o apartamento no dia 17 de outubro de 2008. Na
ação, policiais arrombaram a porta, mas demoraram para entrar porque ela
estava bloqueada por um sofá. Além disso, usaram uma escada para tentar
entrar por uma janela do segundo andar, mas a ferramenta não tinha
alcance para isso.
Durante
essa confusão, Lindemberg aproveitou para atirar em direção a cabeça de
Eloá e de Nayara, segundo laudo da perícia do Instituto de
Criminalística (IC) da Polícia Técnico Científica. Eloá foi atingida por
dois disparos e teve morte cerebral confirmada por um hospital onde
estava internada no dia 18 de outubro. Alguns de seus órgãos foram
doados. Nayara foi baleada no rosto, mas sobreviveu.
A
PM, que usou balas de borracha na incursão, fez disparos, mas não
atingiu Lindemberg, que depois foi dominado e preso. Em entrevistas na
época, alguns oficiais chegaram a afirmar que a invasão do Gate ocorreu
porque ele teria escutado um disparo dentro do apartamento que poderia
ser do seqüestrador contra as reféns. A versão, no entanto, foi negada
depois por outros policiais. Apesar disso, a ação da PM foi bastante
criticada à época. Alguns especialistas em segurança afirmaram que
qualquer invasão deve ser feita em último caso porque pode colocar a
vida dos reféns em risco.
Testemunhas de acusação
Nayara
será uma das cinco testemunhas arroladas pela acusação, quatro são
vítimas de Lindemberg e outro é parente da vítima. Além da estudante,
que atualmente está com 18 anos, prestarão depoimento os dois colegas
dela que foram feitos reféns, o policial militar que escapou de um tiro e
o irmão mais velho de Eloá, Ronickson Pimentel dos Santos, que era
amigo do agressor. (confira a lista completa de testemunhas abaixo).
Para
a promotora Daniela, o irmão de Eloá é peça-chave na construção do
perfil do acusado por ter presenciado a sua agressividade. "Foram
momentos antes da invasão da casa de Eloá e momentos durante a invasão,
quando ele [Ronickson] tentava conversar por telefone com o réu", disse
ela.
A
tese com a qual a Promotoria deve trabalhar é a de que Lindemberg é um
homem possessivo, violento e que invadiu o apartamento da ex-namorada
decidido a matá-la. "Toda a história começou há 30 dias [da data do
início do crime], quando ele já estava ameaçando [...]. Ia rondar a
escola [em que Eloá estudava]. Há 15 dias [do crime ele] abordou Eloá, a
agrediu fisicamente, sempre com essa intenção", disse a promotora.
Segundo
o advogado José Beraldo, que defende os interesses da família de Eloá, e
é assistente da acusação, Lindemberg mencionou várias vezes a intenção
de matar as vítimas em gravações em áudio da negociação entre ele e os
policiais enquanto mantinha os reféns em cativeiro.
As
imagens com o som dessas conversas deverão ser mostradas aos jurados e a
platéia, por meio de um telão, Além disso, também serão exibidas parte
das mais de seis horas de gravações de programas jornalísticos sobre o
caso. Em alguns deles, o sequestrador chegou a dar entrevista por
telefone depois que repórteres e apresentadores ligaram para o
apartamento onde ele estava com as vítimas, ocupando a única linha usada
para a PM negociar com Lindemberg.
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