Por Cláudio Santos
Uma árvore, um país. É por causa desta espécie que somos chamados de brasileiros. O pau-brasil é a única planta que batizou uma nação. Agora, ela nos surpreende mais uma vez. A madeira vermelha que fez história também pode guardar substâncias poderosas contra o câncer. Tão simbólica e tão ameaçada, por pouco não desapareceu de nossas florestas. Está na lista das mais ameaçadas de extinção.
Folhas miúdas, tronco cheio de espinhos, vagens e flores. Pouca gente
teve a oportunidade de ver de perto essa árvore histórica. Em Glória do Goitá, na Zona da Mata de Pernambuco, uma fundação tenta divulgar e multiplicar esta espécie. O local recebe estudantes cheios de curiosidade.
Em um museu é possível conhecer cada detalhe do pau-brasil. Dentro do
tronco está a maior riqueza da árvore. O miolo é bem vermelho, da cor de
brasa, daí vem o nome: brasil. E este era o motivo da cobiça dos
colonizadores. A árvore fornecia um corante que tinha muito valor
comercial na época.
O corante é extraído com muita facilidade. Basta colocar pequenas
lascas da madeira na panela com água fervendo. Mas onde reis e nobres só
viam tinta vermelha, o olhar curioso do povo descobriu remédios.
"Popularmente se diz que o pau-brasil é um bom adstringente e
cicatrizante. Algumas pessoas do mato usam o chá da entrecasca para
curar asma”, diz Ana Cristina Roldão, presidente da Fundação Nacional do
Pau Brasil.
O uso popular foi uma boa pista para os cientistas. Eles revolveram
estudar melhor as duas substâncias que produzem o corante: a brasileína e
a brasilina.
Da Mata Atlântica para o laboratório de antibióticos da Universidade
Federal de Pernambuco, os pesquisadores descobriram que o pau-brasil
pode ser um grande aliado no tratamento contra o câncer. Os estudos
começaram em 1996. Cada pedacinho da árvore foi analisado.
“Já estudamos flor, folha, caule, cerne, semente e raiz, que será a
última etapa da pesquisa do pau-brasil", detalha a pesquisadora Ivone
Souza, da UFPE. "O pau-brasil apresenta propriedades farmacológicas
muito interessantes. Chamou a atenção para a redução de tumores
experimentais. Tanto carcinomas como sarcomas."
Os experimentos feitos com camundongos já surpreenderam. "Todos os
animais tratados tiveram a redução do tumor", revela a pesquisadora
Elisângela Silva. "Nós tivemos redução de 60% a 80% para sarcoma e de
60% a 90% para carcinoma. São cânceres agressivos. São linhagens de
camundongos, não são linhagens humanas, mas são bem agressivas,
especialmente carcinoma, que foi para o qual ele teve melhor atividade."
O resultado é notável, dizem os especialistas. "Dá para afirmar
categoricamente que ele tem atividade anti-inflamatória e uma atividade
muito forte na redução de tumores. Merece toda a atenção e todo o
estudo", conclui.
Talvez, agora, biólogos e farmacêuticos possam dar uma mãozinha aos
ambientalistas. Portador de substâncias poderosas contra o câncer, o
pau-brasil ganha importância e uma chance de escapar da extinção.
"Talvez com esta esperança de cura as pessoas comecem realmente a
plantar o pau-brasil e a dar o seu devido merecimento que até agora a
gente não conseguiu que ele tivesse", espera Ana Cristina Roldão.
Do G1
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