" Sigo em frente, pra frente eu vou
sigo enfrentando as ondas onde muita gente naufragou ..."



terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Conversas sobre bullying, família e escola


Bullying entre adolescentes

O comportamento dos adolescentes há tempos preocupa educadores, pais, psicólogos e todos aqueles que, direta ou indiretamente, são responsáveis pela formação dos jovens. Recentemente, essa preocupação se intensificou com a disseminação e “nomeação” de uma prática altamente discriminatória, caracterizada por forte dose de violência social e psicológica, adotada pelos jovens em idade escolar, conhecida como bullying. Com base na entrevista que a escritora americana Rosalind Wiseman concedeu a Veja e com este plano de aula discuta com seus alunos os traços marcantes dessa prática e os modos de combatê-la.

Desenvolvimento

1ª aula

Conte aos alunos que nas próximas aulas vocês irão discutir um tema bastante em voga entre crianças e jovens: o bullying.
Comece propondo aos alunos a divisão da classe em grupos e, em seguida, solicite uma leitura rigorosa da entrevista publicada em Veja. Peça para que cada um dos grupos identifique as principais ideias do texto e, com base nele, caracterizarem o que significa o termo bullying. Pergunte, ainda, o que consideram causar tal comportamento e se acham necessário combatê-lo.
Oriente o trabalho de cada grupo chamando a atenção para algumas questões. Por exemplo, peça que identifiquem no texto a relação entre a prática do bullying e o uso da internet ou indague que tipos de sofrimento a vítima dessa prática experimenta. Nesta primeira etapa é importante que os estudantes se baseiem em informações extraídas da entrevista.
Você também pode questionar os grupos sobre quem pratica mais esse tipo de violência. Pergunte, também, se consideram os educadores e os pais como responsáveis pelo aumento dessa prática e se concordam com a análise proposta pela escritora americana Rosalind Wiseman. Indague se o bullying é uma prática humana verificável em todas as sociedades, ou seja, se é algo natural, ou se é social, histórico.
Todas as informações e as respostas dos grupos devem ser registradas. Ao final da leitura e do momento de discussão das equipes, promova um debate com toda a turma e organize a exposição de modo que todos os alunos possam exprimir suas opiniões e conclusões a respeito das questões propostas. Anote os principais pontos do debate para discuti-los com os estudantes na próxima aula.

2ª aula
Com base nas respostas fornecidas e nas ideias formuladas na discussão da aula anterior, aproveite para comentar que a prática do bullying está relacionada às transformações recentes experimentadas pela sociedade capitalista e às mudanças verificadas na instituição familiar e na escola.
Explique que os humanos são seres sociais e que, por essa razão, as crianças não nascem prontas, isto é, dotadas com todas as características, qualidades e habilidades requeridas pela vida social. Mostre que nos tornamos humanos mediante um processo chamado “socialização” e que nele são fundamentais duas instituições: a família e a escola.
Comente que a família é a primeira instância desse processo. Ela é responsável por fornecer à criança as primeiras noções e hábitos que a tornarão, em menor ou maior grau, apta a viver coletivamente e a se adequar às normas da sociedade. Com a família, a criança adquire a capacidade de se expressar verbal e emocionalmente. Ela aprende a falar, mas também a se expressar com determinados gestos, adquire certos valores e gostos. Por exemplo, é no com a família que aprendemos a gostar de certos alimentos ou pratos e a não gostar de outros.
Mostre, também, que a família nos ensina a divisão social do trabalho doméstico e nos fornece um modelo do papel social do homem e da mulher. Comente que ela apresenta uma relação de poder e torna a figura do pai ou do mantenedor representante da autoridade social. Desse modo, a família não é uma entidade separada da sociedade, mas uma instituição que ajuda a reproduzi-la e a mantê-la. E que, nessa medida, ela também é configurada pela sociedade, sofrendo dela toda sorte de influências.
Explique, ainda, que a família é, em boa parte, a responsável pela formação de nossos comportamentos, nossas atitudes sociais e de nossas opiniões. Ela nos prepara para a vida social, mas ao mesmo tempo reproduz os preconceitos e nos torna em geral submissos à autoridade e obedientes aos valores sociais.
A escola, por sua vez, é outra instituição fundamental, pois dá continuidade ao processo de socialização iniciado na família. Ela deve zelar pela formação do jovem ou do adolescente complementando sua socialização e tornando-o apto, mediante o aprendizado de determinados conteúdos e a aquisição de certas habilidades, às exigências da vida adulta e do processo de trabalho. A escola também ensina e transmite os valores sociais dominantes promovendo a adequação dos jovens às regras sociais. Explique que, como a família, a instituição escolar experimenta muitas imposições da sociedade e por isso não está isenta de reproduzir os preconceitos sociais ou as relações de poder, sendo por isso um condutor da autoridade social.
Como conclusão, solicite aos grupos formados na primeira aula desta sequência uma reflexão sobre estas instituições e uma análise das relações de poder nelas contidas. E, como avaliação, peça a elaboração de um relatório que caracterize e explique o processo de socialização. O texto deverá ser entregue na próxima aula.

3ª aula
Inicie a aula retomando a reflexão proposta ao final da aula anterior. Aproveite as ideias fornecidas e os textos escritos pelos grupos para destacar que tanto a instituição familiar quanto a escolar estão sujeitas a reproduzir vários aspectos da vida social, inclusive os mais perversos ou problemáticos. Como exemplo, mostre que essas duas instituições demoraram em assimilar o processo de democratização e por isso mantiveram, apesar dos avanços, traços do recente passado autoritário experimentado pelo país na época da ditadura militar (1964-1985).
Explique que o autoritarismo tem efeitos perversos na vida social, afetando a formação intelectual e emocional dos cidadãos, já que ele tende sempre a impor um quadro restrito e fixo de valores, além de um único modelo de comportamento. Realce o fato de ele estimular a intolerância contra todos os que não se enquadram nos valores socialmente impostos e que isso acaba por gerar ciclos ou ondas de violência, geralmente dirigidas contra aquele que é diferente, seja por preferências sexuais, seja por questões étnicas ou por motivações sociais. Comente que a violência contra mendigos, empregadas domésticas e homossexuais são manifestações desse tipo de autoritarismo.
Ele gera o que a teoria social denominou de “personalidade autoritária”, caracterizada por completa submissão aos valores sociais impostos e à hierarquia social. Ou seja, a personalidade autoritária seria submissa a quem está em posição social superior. Em contrapartida, desprezaria os indivíduos ou classes que estivessem em posição social inferior, exigindo deles completa subserviência: desejaria que estes devotassem a ela o mesmo respeito e submissão que elas próprias devotam à autoridade e aos poderosos.
Comente que a personalidade autoritária é um excelente condutor da autoridade e que ela fornece a base social das ditaduras. Explique que, apesar das transformações recentes, a escola e a família tendem ainda a reproduzir este tipo de personalidade em alguns momentos. Exemplifique, mostrando como se desenvolvem na escola vários tipos de lutas entre os alunos, muitas delas voltadas à busca de prestígio e poder. Essas lutas, que podem ser consideradas como ecos dos conflitos de classe ou das diferenças sociais, criam um ambiente propício ao aparecimento da prática do bullying, além de outras formas de violência.
Mostre como o consumo de objetos de grife, como roupas e tênis, que se tornam distintivos de classe ou de identidade social valorizada, se prestam à discriminação e à humilhação de quem não pode ou não quer ostentar tais objetos de consumo. Os alunos concordam com isso? Ouvi-los contando experiências vivenciadas na escola pode ser um bom encaminhamento para debate.
Comente, ainda, que tanto pais, quanto educadores, como aponta a entrevista de Veja, estão em geral despreparados para lidar com esses fatos, já que eles próprios, diante da modernização dos costumes e dos produtos da indústria cultural, tendem, muitas vezes, a se tornar “adultos infantilizados”, mais dispostos a parecerem jovens do que assumir novas responsabilidades.
Explique que a persistência do autoritarismo e da personalidade autoritária, aliada à impotência de pais ou educadores e ao fato de a escola reproduzir os conflitos sociais ou os aspectos mais perversos da sociedade, além de não ter logrado estabelecer um ambiente democrático voltado para a formação da cidadania e do respeito efetivo pelas diferenças, que é sempre a essência da democracia, criaram um “caldo de cultura” favorável ao aparecimento de um novo tipo de comportamento dos jovens e adolescentes. Um dos traços principais desse comportamento é a sensação de vida permissiva, sem regras e responsabilidades, que ofereceria a possibilidade do gozo permanente, gerando assim as condições para o aparecimento de um novo tipo de narcisismo, de individualismo, no qual o outro não é sequer levado em conta.
Por fim, aproveite para destacar que, pela primeira vez na história, a tecnologia se volta para a produção de objetos ou equipamentos destinados ao consumo dos jovens ou mesmo das crianças, como é o caso de celulares, notebooks, vídeos, tablets etc.
Questione as consequências disso para a formação dos adolescentes. Proponha um debate sobre o assunto, indagando se o uso indiscriminado da internet por largo período pode reforçar o narcisismo e a irresponsabilidade ou até mesmo a indiferença e intolerância, já que o universo digital é marcado pela velocidade e pelo esquecimento.
Para concluir o raciocínio, indague em que medida o consumo de tais objetos tecnológicos pode contribuir para a formação de um novo tipo de homem, em tudo dependente da máquina e incapaz de experimentar o processo de socialização de modo efetivo. E, por fim, se isso tende a reforçar ou não a prática do bullying.
Como avaliação, peça aos alunos a elaboração de uma redação sobre o assunto examinado, com experiências vividas na escola e propostas para diminuir os problemas com o bullying. Para enriquecer o trabalho final, sugira aos alunos que assistam ao filme "As melhores coisas do mundo", de Laís Bodanzky.

Avaliação

Verifique se os trabalhos e a redação entregues são coerentes e se as ideias estão bem concatenadas. Analise, também, se a expressão verbal está correta e adequada e se os estudantes revelam entendimento do assunto discutido em sala. Leve em conta a participação do aluno nas discussões e observe se ele compreende o que é o bullying e se contribui para a discussão sobre como evitar o problema na escola.

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