O comportamento dos adolescentes há tempos preocupa educadores, pais, psicólogos e todos aqueles que, direta ou indiretamente, são responsáveis pela formação dos jovens. Recentemente, essa preocupação se intensificou com a disseminação e “nomeação” de uma prática altamente discriminatória, caracterizada por forte dose de violência social e psicológica, adotada pelos jovens em idade escolar, conhecida como bullying. Com base na entrevista que a escritora americana Rosalind Wiseman concedeu a Veja e com este plano de aula discuta com seus alunos os traços marcantes dessa prática e os modos de combatê-la.
Desenvolvimento
1ª aula
Conte aos alunos que nas próximas aulas vocês irão discutir um tema bastante em voga entre crianças e jovens: o bullying.
Comece
propondo aos alunos a divisão da classe em grupos e, em seguida,
solicite uma leitura rigorosa da entrevista publicada em Veja.
Peça para que cada um dos grupos identifique as principais ideias do
texto e, com base nele, caracterizarem o que significa o termo bullying.
Pergunte, ainda, o que consideram causar tal comportamento e se acham
necessário combatê-lo.
Oriente o trabalho de cada grupo chamando a
atenção para algumas questões. Por exemplo, peça que identifiquem no
texto a relação entre a prática do bullying e o uso da internet ou
indague que tipos de sofrimento a vítima dessa prática experimenta.
Nesta primeira etapa é importante que os estudantes se baseiem em
informações extraídas da entrevista.
Você também pode questionar
os grupos sobre quem pratica mais esse tipo de violência. Pergunte,
também, se consideram os educadores e os pais como responsáveis pelo
aumento dessa prática e se concordam com a análise proposta pela
escritora americana Rosalind Wiseman. Indague se o bullying é uma
prática humana verificável em todas as sociedades, ou seja, se é algo
natural, ou se é social, histórico.
Todas as informações e as
respostas dos grupos devem ser registradas. Ao final da leitura e do
momento de discussão das equipes, promova um debate com toda a turma e
organize a exposição de modo que todos os alunos possam exprimir suas
opiniões e conclusões a respeito das questões propostas. Anote os
principais pontos do debate para discuti-los com os estudantes na
próxima aula.
2ª aula
Com base nas respostas fornecidas e nas ideias formuladas na discussão da aula anterior, aproveite para comentar que a prática do bullying está relacionada às transformações recentes experimentadas pela sociedade capitalista e às mudanças verificadas na instituição familiar e na escola.
2ª aula
Com base nas respostas fornecidas e nas ideias formuladas na discussão da aula anterior, aproveite para comentar que a prática do bullying está relacionada às transformações recentes experimentadas pela sociedade capitalista e às mudanças verificadas na instituição familiar e na escola.
Explique que os humanos são seres sociais e que, por essa
razão, as crianças não nascem prontas, isto é, dotadas com todas as
características, qualidades e habilidades requeridas pela vida social.
Mostre que nos tornamos humanos mediante um processo chamado
“socialização” e que nele são fundamentais duas instituições: a família e
a escola.
Comente que a família é a primeira instância desse
processo. Ela é responsável por fornecer à criança as primeiras noções e
hábitos que a tornarão, em menor ou maior grau, apta a viver
coletivamente e a se adequar às normas da sociedade. Com a família, a
criança adquire a capacidade de se expressar verbal e emocionalmente.
Ela aprende a falar, mas também a se expressar com determinados gestos,
adquire certos valores e gostos. Por exemplo, é no com a família que
aprendemos a gostar de certos alimentos ou pratos e a não gostar de
outros.
Mostre, também, que a família nos ensina a divisão social
do trabalho doméstico e nos fornece um modelo do papel social do homem e
da mulher. Comente que ela apresenta uma relação de poder e torna a
figura do pai ou do mantenedor representante da autoridade social. Desse
modo, a família não é uma entidade separada da sociedade, mas uma
instituição que ajuda a reproduzi-la e a mantê-la. E que, nessa medida,
ela também é configurada pela sociedade, sofrendo dela toda sorte de
influências.
Explique, ainda, que a família é, em boa parte, a
responsável pela formação de nossos comportamentos, nossas atitudes
sociais e de nossas opiniões. Ela nos prepara para a vida social, mas ao
mesmo tempo reproduz os preconceitos e nos torna em geral submissos à
autoridade e obedientes aos valores sociais.
A escola, por sua
vez, é outra instituição fundamental, pois dá continuidade ao processo
de socialização iniciado na família. Ela deve zelar pela formação do
jovem ou do adolescente complementando sua socialização e tornando-o
apto, mediante o aprendizado de determinados conteúdos e a aquisição de
certas habilidades, às exigências da vida adulta e do processo de
trabalho. A escola também ensina e transmite os valores sociais
dominantes promovendo a adequação dos jovens às regras sociais. Explique
que, como a família, a instituição escolar experimenta muitas
imposições da sociedade e por isso não está isenta de reproduzir os
preconceitos sociais ou as relações de poder, sendo por isso um condutor
da autoridade social.
Como conclusão, solicite aos grupos
formados na primeira aula desta sequência uma reflexão sobre estas
instituições e uma análise das relações de poder nelas contidas. E, como
avaliação, peça a elaboração de um relatório que caracterize e explique
o processo de socialização. O texto deverá ser entregue na próxima
aula.
3ª aula
Inicie a aula retomando a reflexão proposta ao final da aula anterior. Aproveite as ideias fornecidas e os textos escritos pelos grupos para destacar que tanto a instituição familiar quanto a escolar estão sujeitas a reproduzir vários aspectos da vida social, inclusive os mais perversos ou problemáticos. Como exemplo, mostre que essas duas instituições demoraram em assimilar o processo de democratização e por isso mantiveram, apesar dos avanços, traços do recente passado autoritário experimentado pelo país na época da ditadura militar (1964-1985).
3ª aula
Inicie a aula retomando a reflexão proposta ao final da aula anterior. Aproveite as ideias fornecidas e os textos escritos pelos grupos para destacar que tanto a instituição familiar quanto a escolar estão sujeitas a reproduzir vários aspectos da vida social, inclusive os mais perversos ou problemáticos. Como exemplo, mostre que essas duas instituições demoraram em assimilar o processo de democratização e por isso mantiveram, apesar dos avanços, traços do recente passado autoritário experimentado pelo país na época da ditadura militar (1964-1985).
Explique que o autoritarismo tem efeitos perversos
na vida social, afetando a formação intelectual e emocional dos
cidadãos, já que ele tende sempre a impor um quadro restrito e fixo de
valores, além de um único modelo de comportamento. Realce o fato de ele
estimular a intolerância contra todos os que não se enquadram nos
valores socialmente impostos e que isso acaba por gerar ciclos ou ondas
de violência, geralmente dirigidas contra aquele que é diferente, seja
por preferências sexuais, seja por questões étnicas ou por motivações
sociais. Comente que a violência contra mendigos, empregadas domésticas e
homossexuais são manifestações desse tipo de autoritarismo.
Ele
gera o que a teoria social denominou de “personalidade autoritária”,
caracterizada por completa submissão aos valores sociais impostos e à
hierarquia social. Ou seja, a personalidade autoritária seria submissa a
quem está em posição social superior. Em contrapartida, desprezaria os
indivíduos ou classes que estivessem em posição social inferior,
exigindo deles completa subserviência: desejaria que estes devotassem a
ela o mesmo respeito e submissão que elas próprias devotam à autoridade e
aos poderosos.
Comente que a personalidade autoritária é um
excelente condutor da autoridade e que ela fornece a base social das
ditaduras. Explique que, apesar das transformações recentes, a escola e a
família tendem ainda a reproduzir este tipo de personalidade em alguns
momentos. Exemplifique, mostrando como se desenvolvem na escola vários
tipos de lutas entre os alunos, muitas delas voltadas à busca de
prestígio e poder. Essas lutas, que podem ser consideradas como ecos dos
conflitos de classe ou das diferenças sociais, criam um ambiente
propício ao aparecimento da prática do bullying, além de outras formas
de violência.
Mostre como o consumo de objetos de grife, como
roupas e tênis, que se tornam distintivos de classe ou de identidade
social valorizada, se prestam à discriminação e à humilhação de quem não
pode ou não quer ostentar tais objetos de consumo. Os alunos concordam
com isso? Ouvi-los contando experiências vivenciadas na escola pode ser
um bom encaminhamento para debate.
Comente, ainda, que tanto
pais, quanto educadores, como aponta a entrevista de Veja, estão em
geral despreparados para lidar com esses fatos, já que eles próprios,
diante da modernização dos costumes e dos produtos da indústria
cultural, tendem, muitas vezes, a se tornar “adultos infantilizados”,
mais dispostos a parecerem jovens do que assumir novas
responsabilidades.
Explique que a persistência do autoritarismo e
da personalidade autoritária, aliada à impotência de pais ou educadores
e ao fato de a escola reproduzir os conflitos sociais ou os aspectos
mais perversos da sociedade, além de não ter logrado estabelecer um
ambiente democrático voltado para a formação da cidadania e do respeito
efetivo pelas diferenças, que é sempre a essência da democracia, criaram
um “caldo de cultura” favorável ao aparecimento de um novo tipo de
comportamento dos jovens e adolescentes. Um dos traços principais desse
comportamento é a sensação de vida permissiva, sem regras e
responsabilidades, que ofereceria a possibilidade do gozo permanente,
gerando assim as condições para o aparecimento de um novo tipo de
narcisismo, de individualismo, no qual o outro não é sequer levado em
conta.
Por fim, aproveite para destacar que, pela primeira vez na
história, a tecnologia se volta para a produção de objetos ou
equipamentos destinados ao consumo dos jovens ou mesmo das crianças,
como é o caso de celulares, notebooks, vídeos, tablets etc.
Questione
as consequências disso para a formação dos adolescentes. Proponha um
debate sobre o assunto, indagando se o uso indiscriminado da internet
por largo período pode reforçar o narcisismo e a irresponsabilidade ou
até mesmo a indiferença e intolerância, já que o universo digital é
marcado pela velocidade e pelo esquecimento.
Para concluir o
raciocínio, indague em que medida o consumo de tais objetos tecnológicos
pode contribuir para a formação de um novo tipo de homem, em tudo
dependente da máquina e incapaz de experimentar o processo de
socialização de modo efetivo. E, por fim, se isso tende a reforçar ou
não a prática do bullying.
Como avaliação, peça aos alunos a
elaboração de uma redação sobre o assunto examinado, com experiências
vividas na escola e propostas para diminuir os problemas com o bullying.
Para enriquecer o trabalho final, sugira aos alunos que assistam ao
filme "As melhores coisas do mundo", de Laís Bodanzky.
Avaliação
Verifique se os trabalhos e a redação entregues são coerentes e se as ideias estão bem concatenadas. Analise, também, se a expressão verbal está correta e adequada e se os estudantes revelam entendimento do assunto discutido em sala. Leve em conta a participação do aluno nas discussões e observe se ele compreende o que é o bullying e se contribui para a discussão sobre como evitar o problema na escola.
Avaliação
Verifique se os trabalhos e a redação entregues são coerentes e se as ideias estão bem concatenadas. Analise, também, se a expressão verbal está correta e adequada e se os estudantes revelam entendimento do assunto discutido em sala. Leve em conta a participação do aluno nas discussões e observe se ele compreende o que é o bullying e se contribui para a discussão sobre como evitar o problema na escola.
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