" Sigo em frente, pra frente eu vou
sigo enfrentando as ondas onde muita gente naufragou ..."



segunda-feira, 21 de maio de 2012

Preconceito não, apenas babaquice


Por Cláudio Santos


O tal vídeo da BrahmaFla, onde um rapaz destila ironias sobre o Sport com a inventividade de uma máquina calculadora e a sagacidade do Cigano Igor, não é uma peça de preconceito contra nordestinos. É apenas uma tentativa tosca e infantil de soar engraçado e motivar a torcida de um time num jogo contra outro. Parem de procurar cabelo em sapo. E olhem que eu sou torcedor do Sport (rubro-negro não, pois isso tem até em times de menor expressão nos cenários nacional e mundial, como Flamengo, Milan, etc).

Sim, em um determinado momento o jovem manda um "Issportí" à moda das novelas ambientadas no Nordeste, o que, levando-se em conta o tipo médio do torcedor-carioca-marrento, é uma clara tentativa de zombar com o sotaque local. Mas notem bem: uma coisa é a Mayara Petruso e seu "mate um nordestino afogado". Outra, bem diferente, é o sujeito fazer troça com um sotaque. Afinal djí côantach, eu puósso ou não puósso tchirar ôanda com o sutáqui dêlich? Seria isso preconceito contra cariocas?

No mais, "timinho" não é uma palavra agressiva. O torcedor do Real Madrid já deve tê-la usado contra o Barcelona, e até os adeptos do 32 de Abril Esporte Clube a usaram um dia para se referirem ao rival 30 de Fevereiro Futebol Clube quando este último começou a fazer cera num clássico entre os dois. À pilhéria sobre a qual o Sport "só aparece na mídia quando joga com o Miengão" eu poderia responder que " de fato nas páginas policiais o Flamieango aparece bem mais que o Sport". Seria preconceito meu, uma descrição técnica dos fatos usada como tiração de onda?

O que esse caso escancara é, por um lado, a total falta de critério para uma boa gozação (sim, não é qualquer asneira que se classifica como "boa brincadeira") e, do outro, a
hiperssensibilidade à qual se acostumou boa parte dos nordestinos. Não que não haja motivos históricos para que nós esbravejemos contra o preconceito – estão aí as Mayaras para mostrar o contrário – mas o caso do flamieanguista é coisa infinitamente menor, besta, tabacuda, alesada e, sim, inofensiva.

Quanto à razão primeira desse furdunço todo – nosso título Brasileiro de 1987, que muitos poderosos tentam tirar mas há 25 anos esbarram no restinho de Justiça que existe no Brasil – eu poderia até recomendar ao nobre rapaz um pouco de estudo sobre o assunto mas, a julgar pelo seu vocabulário no vídeo, creio ser algo que está um tanto acima do seu horizonte de compreensão. Eu só daria um recado, não só a ele como aos demais torcedores do Brasil: brincadeiras futebolísticas podem ser inteligentes e bem sacadas, quer sejam sobre 1987, sobre a convulsão do Ronaldinho, sobre a fogueteira do Maracanã, e por aí vai. Inteligência só ofende a quem não a tem.

* Felipe Vieira, 36 anos, é jornalista e torcedor do Sport Club do Recife.
Nota: O texto não reflete, necessariamente, a opinião do Blog
Publicado originalmente no Blog do Torcedor

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