Por Cláudio Santos
Acabei de sofrer a maior dor da minha vida: enterrar a minha mãe. Não fosse a fé que tenho em Deus e na vida eterna confesso que o sofrimento teria sido insuportável. Mas a mão divina ajuda a superar qualquer dor, por maior que seja. Mamãe morreu sem dar trabalho a ninguém, na solidão da sua casa, em Afogados da Ingazeira, aos 86 anos.
Seu corpo foi encontrado por Marcelo, um dos meus irmãos, às quatro da manhã num sofá da sala. Embaixo dele, uma cartela de um remédio para enjoo. Ao invés de acordar o filho, resolveu se medicar sozinha, porque era muito independente, não gostava de incomodar ninguém, nem mesmo os filhos.
Não sabia que estava sofrendo um infarto, que de forma fulminante tirou a sua vida. Mamãe teve nove filhos, que lhe deram 22 netos e seis bisnetos. Morreu no dia 27 de fevereiro, data de aniversário de outro filho, Gastão, o caçula dos homens. Na véspera da sua morte, sentada numa cadeira na calçada de sua casa, ela chegara a lembrar do aniversário do meu irmão no dia seguinte, mas com uma triste lembrança.
Recordou que, há 47 anos, quase morria de uma hemorragia no parto de Gastão Filho, que completou os 47 anos exatamente no dia da sua morte. Desígnios de Deus! Não há o que concluir diferente. Mamãe era uma pessoa alegre, de bem com a vida, radiava uma energia tão gostosa que contagiava qualquer um.
E amada não apenas pelos filhos, meu pai Gastão e familiares. Ontem, durante o velório, e hoje no sepultamento, pude ter a exata dimensão de como era querida também pelas amigas da sua geração e até as mais novas, que lotaram a nossa casa, levando conforto espiritual. Uma multidão acompanhou o seu enterro, realizado, há pouco, debaixo de um sol de 40 graus.
Atendemos ao seu pedido. Não houve cânticos na sua despedida. Passamos em frente à Igreja, onde ela me levava, garoto, para assistir à missa em seu colo e depois dormir sob o calor e o conforto do seu amor.
Que dor! A dor da saudade. Sabemos que ela está com o pai celestial. Difícil será aguentar a saudade.
Saudade do seu beijo, dos seus abraços, da sua alegria, do seu riso, dos seus puxões de orelha. Sim, diferente do meu pai, ela dava carão nos filhos com uma autoridade ímpar. Era o retrato fiel do seu pai Severo, meu avô, homem duro no trato, implacável nas suas decisões, de uma personalidade forte, bem coronel, para ser mais preciso.
Mas, como mamãe, doce, cativante e amoroso. Ao observar tanta gente nos consolando, seja no velório, no enterro ou em mensagens no face e no blog, lembrei-me de Rubem Alves. As palavras de consolo, segundo ele, são ditas no pressuposto de que têm poder para diminuir o vazio que a morte deixa.
Todos querem diminuir nosso sofrimento. Cercam-nos com palavras que, pensam eles, trarão algum consolo. Mas que palavra ou poema poderá substituir a mãe que se foi? Nenhuma!
São inúteis, volto a repetir. A morte, por mais conhecimento e fé que tenho em relação à vidaeterna, a vida após a morte, é uma dor que nenhuma palavra pode conter.
Só sabe o que é a dor aquele que a está sentindo, no presente. Nenhuma dor é a mesma. Cada dor é única. Dor não tem jeito de explicar, porque tudo que é sentimento é inexplicável. O estado normal da alma é não ter dor. Deus, na sua onisciência, estabeleceu um plano de salvação para os homens.
Pela sua fé, pela sua vida ereta diante do Salvador, minha mãe está incluída neste plano. Aos que postaram mensagens de condolências aqui, no face, aos que me ligaram, muito obrigado pela solidariedade.
Aos que gostam deste blog e admiram minha dedicação ao jornalismo: minha mãe guerreira tinha um orgulho incomensurável deste seu filho.
E eu fazia tudo para vê-la feliz! |
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