Por Cláudio Santos
Dizem que Deus é brasileiro, mas, com todo o respeito, sua mão generosa tem feito também a alegria de nossos vizinhos argentinos. Em 1986, no México, o time de Telê Santana viu o sonho do tetracampeonato bater na trave, enquanto Maradona usava o pé esquerdo (e a mão também, seu juiz) para conduzir sua seleção ao segundo título mundial de futebol.
27 anos depois, em meio a outra disputa, dessa vez no campo sagrado do Vaticano, eles levaram a melhor novamente, com a escolha de Jorge Mario Bergoglio — a partir de agora, Francisco I — como o primeiro Papa latino-americano, apesar da torcida pelo nosso camisa 10, Dom Odilo Scherer.
Seria um caso de dor de cotovelo coletiva — céus, eles já têm um Messi e dois Oscar, por “A história oficial”, de Luis Puenzo (em 1985) e “O segredo dos seus olhos”, de Juan José Campanella (em 2010) — , mas, como a inveja é um pecado, resta apenas dizer: que seja feita a Sua Vontade.
Mesmo assim, é preciso ser santo para não aceitar as provocações, que começaram a explodir nas redes sociais assim que a novidade surgiu, embalada por uma fumaça branca. Os “hermanos” curtiram a escolha, aproveitando para tirar uma onda com os brasileiros. “Temos um Papa, enquanto vocês ficam com Pelé”, escreveu um sujeito mais exaltado — deixando, porém, escapar o respeito pelo atleta do século, eterno desafeto de Maradona.
Sim, os argentinos têm o cinzento tango, em versão tradicional (Carlos Gardel, Astor Piazzolla) e eletrônica (Gotan Project), além do rock de Fito Paez, Charlie Garcia e Los Fabulosos Cadillacs, entre muitos outros. Sim, na literatura deram ao mundo gigantes como Jorge Luis Borges, Manuel Puig e Julio Cortázar.
Mas comparações nesses ou em outros setores não levam a nada, ainda mais nesse momento de comunhão. Melhor fazer como o mestre Zagallo, que celebrou o fato de o novo Papa ter sido eleito no dia 13 de um ano que termina em 13. “Que coincidência. 13 é o número da sorte, ele vai ser feliz”, disse o veterano técnico em entrevista.
E emendou, comentando, bem-humorado, a “derrota” verde e amarela: “Vamos ter que engolir”. De preferência, faltou dizer, junto a um alfajor e dizendo “amém”.
Fonte: Carlos Albuquerque (O Globo)
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