Por Cláudio Santos
Festas, mulheres e carros de luxo
não fazem mais parte da vida do goleiro Bruno Fernandes há dois anos.
Acostumado a esbanjar dinheiro em farras, o jogador agora vive em uma
cela de 6 m² sem qualquer tipo de regalia. Desde julho de 2010, quando
foi detido pela polícia mineira, teve uma queda de 99% na sua renda
mensal. Segundo o advogado do atleta, Francisco Simim, o Flamengo pagava
um salário de R$ 150 mil ao goleiro, que também recebia cerca de R$ 250
mil em propagandas.
Após a prisão, com o cancelamento de trabalhos
comerciais e a suspensão do contrato com o clube, Bruno desceu do
patamar de milionário, com um saldo de R$ 400 mil mensais, para figurar
no cenário vivido por muitos brasileiros. Desde que foi incorporado ao
time de detentos que faxinam o pavilhão da Penitenciária Nelson Hungira,
em Contagem, na região metropolitana de BH, tem uma remuneração de 3/4
do salário mínimo, o que corresponde a R$ 466. A cada três dias
trabalhados, o atleta tem um dia reduzido na pena.
Os advogados do goleiro ainda acreditam em sua
soltura e na recuperação do patrimônio perdido. Hoje, ele possui apenas
um sítio em Esmeraldas, avaliado em R$ 1.200.000, que decidiu dividir
com a ex-mulher, Dayanne Souza, na ocasião do divórcio. No entanto, o
imóvel está embargado pela Justiça por ter sido o provável cativeiro de
Eliza Samudio. A casa em que Bruno morava na Barra da Tijuca, no Rio de
Janeiro, a Land Rover - que custa em média R$ 300 mil, e os vários
apartamentos comprados na planta ficaram para trás, assim como sua
ascendente carreira no futebol.
Antecedentes
Nascido em uma família pobre de Ribeirão das Neves,
na região metropolitana, em 1984, Bruno foi criado pela avó e teve uma
infância difícil no bairro Minaslândia. Em 2005, estreou pelo Atlético
Mineiro, onde ficou por dois anos, e atuou em 59 jogos. Depois de uma
contratação passageira pelo Corinthians, em 2006 foi vendido ao
Flamengo, onde viveu o auge de sua carreira e teve o nome cogitado para
integrar a seleção brasileira. O goleiro ficou conhecido pela
personalidade forte e se envolveu em algumas confusões antes da acusação
da morte de Eliza Samudio.
Em 2008, o meio-campo Marcinho, seu então companheiro
de clube no Flamengo, agrediu uma prostituta em uma festa em seu sítio.
Em defesa da mulher, disse que “independentemente de ser prostituta ou
não, é mulher, e bater em mulher é covardia”. No entanto, dois anos
depois, logo após a agressão do atacante Adriano à sua noiva, Joana
Machado, virou manchete ao defender o companheiro com a seguinte
alegação: “Qual de vocês que é casado que nunca brigou com a mulher? Que
não discutiu, que até não saiu na mão com a mulher, né cara? Não tem
jeito. Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”. A declaração
teve tanta repercussão, que o atleta pediu desculpas em público.
Mesmo casado com Dayanne, Bruno mantinha várias
amantes, entre elas a carioca Fernanda Castro, também apontada como
participante do crime. O jogador conheceu Eliza Samudio em um churrasco
na casa do atacante Adriano. Em 2008, a modelo o acusou de sequestro e
agressão, no Rio de Janeiro. Em junho de 2010, Eliza desapareceu após
ser vista no sítio do goleiro, em Minas Gerais.
A vida segue
- É um exercício diário, eu tento esquecer. Quando está no auge, vivem me lembrando.
Na tentativa de enterrar o passado, a ex-mulher de
Bruno, Dayanne Souza, não gosta de falar sobre o suposto crime e leva
uma vida normal, sem luxos ou holofotes. Trabalha como vendedora em uma
loja de roupas, na capital mineira, para sustentar as filhas, pois não
recebe um centavo de pensão do goleiro. A jovem é compreensiva e entende
que o jogador não tem condições financeiras, mas batalha para mantê-las
em boas condições.As meninas, de 3 e 6 anos, estão matriculadas em uma
escola evangélica, onde segundo mãe, não sofrem recriminações em relação
à situação do pai.
Quando perguntada sobre a inocência de Bruno, prefere o silêncio, mas afirma que ele foi um pai exemplar, imagem que tenta passar até hoje para as crianças.
- Eu tento apagar o que aconteceu, tento passar o pai
que ele foi. Minha filha fala que o pai é o herói dela. A imagem dele
foi danificada. Eu mantenho essa visão de mega pai, independente do que
digam. Pelo amor que sinto por minhas filhas, não vou acabar com a
reputação dele. Convivi com ele por três anos e não conheci esse lado
monstro.
Por isso, acata o pedido do jogador e não deixa que
as meninas vejam qualquer notícia sobre o assassinato de Eliza, para que
"quando crescerem, se tiverem acesso, tenham a chance de repensar".
Aliás, Dayanne reforça que sua imagem também foi distorcida durante o
processo de investigação, quando também foi detida suspeita do sumiço da
modelo.
Enquanto isso, Dayanne diz que segue a vida sem ressentimentos do ex-marido e ainda tem um forte sentimento de amizade por ele.
- Você conhece a Dayanne no papel, não conhece o
coração. Não quero pensar que minha imagem está distorcida. Quero pensar
que foi melhorada, eu tento viver com o que eu sei que sou.
O caso Eliza Samudio
O jogador Bruno Fernandes e mais sete pessoas foram
indiciados pelo sequestro e morte de Eliza Samudio. A jovem desapareceu
em junho de 2010. No dia 25, seu filho foi encontrado na casa de uma
amiga da ex-mulher do goleiro, Dayanne Souza.
Após depoimento de todos os suspeitos, a polícia
concluiu que Eliza foi sequestrada com seu filho no Rio de Janeiro, no
dia 4 de junho, e levada para Minas Gerais. As investigações indicaram
que a modelo foi mantida no sítio de Bruno, em Esmeraldas, na região
metropolitana. Dias depois, ela teria sido assassinada na casa do
ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, em Vespasiano, também
na região metropolitana.
Apesar de o corpo de Eliza não ter sido encontrado, a polícia concluiu que ela está morta.
No final de junho deste ano, a mãe da jovem recebeu
uma carta com descrições detalhadas do corpo da filha. O texto dizia que
os restos mortais da modelo estão em um poço no bairro Planalto, na
região da Pampulha, na capital, mas o delegado Wagner Pinto descartou
buscas no local.
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