Por Cláudio Santos
Quatro
dias após o impeachment do presidente paraguaio Fernando Lugo,
movimentos sociais e simpatizantes do líder estão se articulando para
realizar um megaprotesto para reverter sua destituição ou, ao menos,
antecipar a realização das próximas eleições no Paraguai.
Até a
última segunda-feira, as manifestações contra a queda de Lugo vinham se
concentrando em frente à TV pública paraguaia, na capital, Assunção.
Agora, líderes de movimentos sociais afirmam que nos próximos dias
reunirão seus integrantes nas capitais dos Departamentos (Estados), para
protestar ou iniciar uma marcha até Assunção.
Também está
previsto o bloqueio de várias estradas importantes, incluindo a que une o
Paraguai ao Brasil na fronteira entre Ciudad del Este e Foz do Iguaçu
(PR).
'Vamos unir sem-teto, indígenas, sem-terra, estudantes,
sindicalistas, todos os movimentos sociais. Marcharemos até Assunção e
lá ficaremos até que Lugo volte ao poder', diz à BBC Brasil José
Rodríguez, líder da Liga Nacional de Carperos (LNC), um dos maiores
movimentos sem-terra paraguaios.
Rodríguez diz que qualquer outra
saída que não a volta de Lugo ao poder implicaria legitimar a quebra de
regras democráticas. 'Este é um governo ilegítimo, que utilizou modos
amorais para se constituir'.
A LNC estava ocupando as terras em
Curuguaty (a 250 quilômetros de Assunção) onde, em 15 de junho, seis
policiais e 11 sem-terra morreram em confronto durante uma reintegração
de posse. A matança foi apontada por congressistas como uma das
principais razões para a destituição de Lugo, na última sexta-feira.
Segundo
Rodríguez, o confronto em Curuguaty foi desencadeado por 'mercenários
contratados', que haviam se escondido entre as árvores a mando de
poderosos. Segundo ele, a intenção era criar um pretexto para destituir
Lugo.
'Pelo ângulo e pela precisão dos tiros, é evidente que houve
um complô. Nem a polícia nem os camponeses sabiam da presença dos
atiradores'. Para ele, os principais suspeitos pelo ato são 'os que dele
se beneficiaram, em vez de estimular investigações'.
'Nem os
colorados nem os liberais (principais partidos no Congresso paraguaio)
querem esclarecer o que houve, porque a teoria deles é que Lugo foi o
responsável.'
Após o conflito, o então presidente paraguaio
ordenou a criação de uma comissão especial de investigação, na qual
participaria a Organização dos Estados Americanos (OEA), para esclarecer
o ocorrido.
Eleições antecipadas
Enquanto Rodríguez exige o
retorno de Lugo, outros grupos adotam posição mais flexível. Dirigente
do Movimento Camponês Paraguaio, Belarmino Balbuena disse à Agência
Venezuelana de Notícias que, caso Lugo não possa voltar ao poder, que ao
menos se antecipem as próximas eleições presidenciais, previstas para
abril de 2013.
No entanto, também nesta segunda-feira, o Tribunal
Superior de Justiça Eleitoral do Paraguai anunciou que o novo
presidente, Federico Franco, deverá completar o mandato até agosto de
2013 e descartou antecipar as eleições de abril.
O órgão eleitoral
citou a resolução da Corte Suprema do país, que nesta segunda-feira
arquivou a ação movida por Lugo na tentativa de invalidar o impeachment.
O ex-presidente argumentou que não teve tempo para articular uma defesa
para seu julgamento no Congresso.
Apesar da derrota na Justiça,
Lugo pretende continuar atuando contra sua destituição. Nesta segunda, a
Frente Nacional de Defesa da Democracia, movimento criado por ele após o
impeachment, lançou um site (paraguayresiste.com) para organizar as
manifestações em sua defesa.
Os principais protestos têm ocorrido
em frente à TV pública paraguaia, em Assunção, onde manifestantes se
revezam num microfone aberto - cada discurso é transmitido ao vivo pela
emissora. A frente pró-Lugo diz que a manifestação tem reunido
diariamente cerca de 10 mil pessoas, incluindo alguns que estão
acampados no local, mas órgãos de imprensa calculam que o número é bem
menor.
Além de se dedicar ao protesto na TV pública, a frente tem
pregado espalhar as manifestações pelo país. Após uma reunião do grupo
nesta segunda, decidiu-se que nesta terça e quarta-feira haverá
bloqueios de estradas em diversas regiões do país.
Em Ciudad del
Este, na fronteira do Paraguai com o Brasil, organizadores da
manifestação prevista disseram à BBC Brasil que poderão fechar a ponte
da Amizade, que une os dois países.
'Levaremos 15 mil camponeses
às ruas', diz Federico Ayala, líder de um grupo de 5 mil famílias
sem-terra que ocupa uma área a 70 quilômetros de Ciudad del Este.
'Lamentavelmente somos do interior e não pudemos estar todos a Assunção
quando houve o golpe, mas há tempo para reagir'.
BBC Brasil
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