Por cláudio Santos
A movimentação
de Eduardo Campos acendeu o pavio do petismo. O fósforo foi riscado na
eleição municipal de Recife. O PT federal dividiu-se. Um pedaço acha que
o mandachuva do PSB tornou-se um aliado paradoxal. Outro grupo crê que
ele já virou um estorvo. As duas alas unificam-se na conclusão: por trás
do vaivém, esconde-se um projeto alternativo à reeleição de Dilma
Rousseff.
Sob a
presidência de Eduardo Campos, o PSB sempre foi um parceiro
conflituoso. Nos dois mandatos de Lula, questionava a “hegemonia
conservadora” atribuída ao PT e ao PMDB na coligação. Na gestão de
Dilma, adornada com a presença de Michel Temer na vice, o incômodo
aumentou. A perspectiva de repetição da chapa Dilma-Temer em 2014
transformou a pregação num cavalo de batalha.
Até
aqui, o PT trabalhava com a hipótese de que Eduardo estivesse jogando um
jogo de dois tempos. No primeiro, tentaria virar o vice de Dilma em
2014. No segundo, iria a campo como presidenciável em 2018. Agora, o
petismo rumina a suspeita de que o governador pernambucano tenta queimar
a primeira etapa. O sonho da Presidência lhe teria subido à cabeça.
NEGRA PREVISÃO
O
que mais inquieta os operadores do PT são as informações que lhes chegam
sobre as análises que Eduardo sussurra em suas conversas privadas. O
governador estima que a crise econômica será maior do que a capacidade
de Dilma de gerenciá-la. Prevê que, em seis meses, os efeitos da ruína
europeia começarão a ser sentidos no mercado de trabalho brasileiro.
A
política é feita de apostas. Mas dissemina-se no PT a impressão de que
Eduardo contraria a fama de articulador tarimbado e mete-se numa aposta
perdida ao escorar seu projeto pessoal no infortúnio de Dilma. Erra ao
supor que, confirmando-se o seu vaticínio, Lula não terá saúde para uma
nova candidatura. Erra de novo ao desconsiderar que Dilma pode
prevalecer sobre a crise, deixando-o na posição do jogador que levanta
da mesa sem dinheiro para o táxi.
Ao
empurrar o PSB para dentro da coligação petista de Fernando Haddad em
São Paulo, Eduardo rolou sua dívida de gratidão com Lula, um amigo que,
enquanto esteve no Planalto, privilegiou Pernambuco no rateio das verbas
federais. Ao refugar a candidatura petista de Humberto Costa em Recife,
o governador como que reiterou que não nutre pelo PT o apreço que
devota ao líder supremo da legenda.
PT FORA
De
resto, ficou entendido que, na hora de escolher um sucessor para o
governo de Pernambuco, Eduardo não deve buscar o nome nos quadros do PT.
A exemplo do que fez agora ao fabricar um candidato de última hora à
prefeitura de Recife –Geraldo Júlio (PSB)— o governador tende a acionar
seu laboratório em 2014.
Nesta
temporada de 2012, as provetas de Eduardo deixaram o PT indignado e a
oposição perplexa. Na noite passada, reuniram-se os quatro candidatos da
oposição à prefeitura de Recife: Mendonça Filho (DEM), Raul Henry
(PMDB), Daniel Coelho (PSDB) e Raul Jungmann (PPS). Participou da
conversa o deputado Sérgio Guerra, presidente do PSDB federal.
O
encontro teve o propósito de reabrir o debate sobre a conveniência de a
oposição unificar-se em torno de um candidato único. Alguém capaz de
evitar que o segundo turno seja travado entre o PT e o PSB. Após mais de
duas horas de reunião, não se chegou a nenhum acordo. A negociação será
retomada neste sábado (23), dessa vez sem a presença dos candidatos.
AMIGO JARBAS
Simultaneamente,
Eduardo flerta com a ideia de atrair para o palanque do seu candidato,
Eduardo Júlio, o postulante do PMDB, Raul Henriy –um deputado submetido à
liderança do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). Oposicionista ácido
em Brasília, Jarbas reaproximou-se de Eduardo na cena pernambucana.
Numa
das conversas reservadas que manteve com Eduardo, Jarbas disse ao
interlocutor que ele teria de se romper com o PT se quisesse alçar voos
mais altos no plano federal. Para desassossego do petismo, os tambores
do rompimento começam a soar antes do imaginado.
Magno Martins
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