Primeira página do texto final publicado pela ONU,
com numeração e código de barras. (Foto: Reprodução)
com numeração e código de barras. (Foto: Reprodução)
Por Cláudio Santos
O texto final da Rio+20, intitulado "O futuro que queremos", foi
publicado no site oficial da conferência da ONU sobre desenvolvimento
sustentável, que termina nesta sexta-feira, 22 (leia o documento, traduzido para os idiomas oficiais da ONU: inglês, espanhol, árabe, russo, francês e chinês).
Até as 14h, o texto ainda não havia sido formalmente aprovado pelos
representantes dos mais de 190 países reunidos no Rio desde a semana
passada. Mas os dois principais porta-vozes da conferência, Giancarlo
Summa e Nikhil Chandavarkar, confirmaram ao G1 que a versão publicada no site, com data de quinta, 21, é a final (o número oficial do documento é A/CONF.216/L.1).
A aprovação do texto está prevista para ocorrer nesta sexta.
"O Itamaraty se assegurou, costurou tudo, fechou. Já podemos usar
aquilo [o documento numerado] porque eles vão adotar hoje. Já está
pronto", disse Nikhil Chandavarkar, chefe de comunicação da Rio+20,
ressaltando o fato de que o documento já foi traduzido. "Eles (a ONU)
não traduzem à toa."
Trecho criticado por ONGs é mantidoDe acordo com
Chandavarkar, em relação ao rascunho fechado na terça-feira (19), houve
apenas mudanças de formatação, não de conteúdo. Foi mantido, inclusive, o
trecho "com total participação da sociedade civil", que ONGs haviam
pedido para ser retirado porque consideram que foram excluídas do
processo de construção do documento.
"Agora o documento encerra e deve ser aprovado por unanimidade pela
conferência, e será formalmente adotado", explicou Giancarlo Summa,
diretor do Centro de Informação da ONU para o Brasil. Isso significa que
a plenária de encerramento será mera formalidade - o documento
permanece como está.
O propósito da Rio+20 era formular um plano para que a humanidade se
desenvolvesse de modo a garantir vida digna a todas as pessoas,
administrando os recursos naturais de modo que as gerações futuras não
sejam prejudicadas. Se esse objetivo foi alcançado, é um tema polêmico -
muitos observadores e representantes da sociedade civil acreditam que
não.
O documento prevê, entre outras medidas, a criação de um fórum político
de alto nível para o desenvolvimento sustentável dentro das Nações
Unidas, além de reafirmar um dos Princípios do Rio, criado em 1992,
sobre as “responsabilidades comuns, porém diferenciadas”. Este princípio
significa que os países ricos devem investir mais no desenvolvimento
sustentável por terem degradado mais o meio ambiente durante séculos.
Mais do que ações efetivas, o documento aprovado nesta sexta-feira (21)
pelos países define o início de uma série de processos de negociação,
entre eles o fortalecimento do Programa das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente (Pnuma) e o estabelecimento de um mecanismo jurídico dentro da
Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (Unclos, na sigla em
inglês) que estabelece regras para conservação e uso sustentável dos
oceanos.
PobrezaO texto estabelece a erradicação da pobreza
como o maior desafio global do planeta e recomenda que “o Sistema da
ONU, em cooperação com doadores relevantes e organizações
internacionais”, facilite a transferência de tecnologia para os países
em desenvolvimento.
Esse sistema atuaria para facilitar o encontro entre países
interessados e potenciais parceiros, ceder ferramentas para a aplicação
de políticas de desenvolvimento sustentável, fornecer bons exemplos de
políticas nessas áreas e informar sobre metodologias para avaliar essas
políticas.
Por atender restrições de países com visões muito diferentes, o texto
da Rio+20 tem sido criticado por avançar pouco: não especifica quais são
os objetivos de desenvolvimento sustentável que o mundo deve perseguir,
nem quanto deve ser investido para alcançá-los, e muito menos quem
coloca a mão no bolso para financiar ações de sustentabilidade. O que o
documento propõe são planos para que esses objetivos sejam definidos num
futuro próximo (veja abaixo um quadro com o que foi negociado).
CríticasO texto da Rio+20 recebeu críticas das
próprias delegações que participaram da conferência e de organizações
não-governamentais. Os negociadores da União Europeia classificaram a
redação de “pouco ambiciosa” e disseram que faltam “ações concretas” de
implementação das ações voltadas ao desenvolvimento sustentável.
Por sua vez, antes mesmo da ratificação pelos chefes de Estado,
integrantes da sociedade civil assinaram uma carta endereçada aos
governantes intitulada “A Rio+20 que não queremos”, na qual classificam o
texto da conferência de “fraco”.
“O documento intitulado 'O Futuro que Queremos' é fraco e está muito
aquém do espírito e dos avanços conquistados nestes últimos 20 anos,
desde a Rio 92. Está muito aquém, ainda, da importância e da urgência
dos temas abordados, pois simplesmente lançar uma frágil e genérica
agenda de futuras negociações não assegura resultados concretos”, afirma
o documento, assinado por mais de mil ambientalistas e representantes
de organizações não-governamentais.
A carta diz ainda que a Rio+20 passará para a história como uma
conferência das Nações Unidas que ofereceu à sociedade mundial um texto
marcado por “graves omissões que comprometem a preservação e a
capacidade de recuperação socioambiental do planeta, bem como a
garantia, às atuais e futuras gerações, de direitos humanos adquiridos.”
O documento termina dizendo que a sociedade civil não ratifica o texto
da Rio+20. “Por tudo isso, registramos nossa profunda decepção com os
chefes de Estado, pois foi sob suas ordens e orientações que trabalharam
os negociadores, e esclarecemos que a sociedade civil não compactua nem
subscreve esse documento”, conclui a carta.
O que vinha sendo negociado | Como ficou o texto final |
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CBDR – sigla em inglês para Responsabilidades Comuns Mas Diferenciadas, princípio que norteia as negociações de desenvolvimento sustentável. O princípio oficializa que se espera dos países ricos maior empenho financeiro para implementação de ações, pelo fato de virem degradando o ambiente há mais tempo e de forma mais intensa. | Havia rumores de que os países ricos queriam tirar esse princípio do texto, mas ele permaneceu. |
Fortalecimento do Pnuma – cogitava-se transformar o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente em uma instituição com status de agência da ONU, como é a FAO (de Alimentação). | O texto prevê fortalecimento do Pnuma, mas não especifica exatamente como. O assunto deve ser resolvido na Assembleia Geral da ONU em setembro. |
Oceanos – Era uma das áreas em que se esperava mais avanço nas negociações, porque as águas internacionais carecem de regulamentação entre os países. | A negociação avançou e o texto adota um novo instrumento internacional sob a Convenção da ONU sobre os Direitos do Mar (Unclos), para uso sustentável da biodiversidade e conservação em alto mar. |
Meios de Implementação – questão-chave para os países com menos recursos, significa na prática o dinheiro para ações de desenvolvimento sustentável. Os países pobres propuseram a criação de um fundo de US$ 30 bilhões/ano a ser financiado pelos ricos. | Avançou pouco. O fundo de US$ 30 bilhões não virou realidade. “A crise influenciou a Rio+20”, admitiu o embaixador brasileiro André Corrêa do Lago. |
ODS – Os Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável, metas a serem perseguidas pelos países para avançar
ambiental, política e socialmente, eram uma das grandes cartadas para a
Rio+20. |
Os objetivos não foram definidos. Inicia-se apenas um processo para rascunhar quais devem ser as metas até 2013. Elas então devem ser definidas para entrarem em vigor em 2015, quando terminam os Objetivos do Milênio. |
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